Está nas livrarias Da erótica: muito além do obsceno, uma excelente antologia da obra poética do português Manuel Barbosa Du Bocage (1765-1805), considerado um dos principais representantes do Arcadismo e precursor do Romantismo. Bocage foi duramente perseguido pelo falso moralismo vigente em sua época: intolerância cultural que chegou ao ponto de levá-lo à prisão em agosto de 1797. Para quem já vinha sendo criticado pela Igreja Católica, a gota d’água a causar-lhe o encarceramento, sob a acusação de ser inimigo da religião e do Estado, foi o seu poema Epístola a Marília. Nele, o personagem criado por Bocage tenta seduzir uma mulher sem o menor compromisso de com ela se casar — tal comportamento era em seu tempo tipificado como amoral e criminoso, mesmo sendo a moça maior de idade. A antologia tem como organizador o professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro José Paulo Neto (Editora Boitempo).

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Pioneiro do feminismo português

Bocage é considerado autor do primeiro manifesto feminista em Portugal, com o poema Epístolas de Olinda e Alzira.

A essência: duas amigas trocam cartas, nas quais contam, uma à outra, as suas aventuras sexuais. E criticam a “triste educação dada às mulheres” que pretende fazê-las esquecer a sexualidade.

MUSEU
Homenagem à Inconfidência Mineira

Uma das principais obras no campo das artes plásticas, retratando a Inconfidência Mineira e seus participantes, é a tela Jornada dos Mártires, pintada por Antônio Parreiras, em 1928. Nela, vêem-se diversos revoltosos que se insurgiram contra o excessivo valor dos impostos decretado pela Coroa Portuguesa a caminho do Rio de Janeiro, onde foram julgados – todos já presos, inclusive Tiradentes, que seria condenado à morte. O quadro, uma raridade artística brasileira, está novamente exposto no Museu Mariano Procópio, na cidade mineira de Juiz de Fora, marcando a reabertura do segundo andar do sobrado, que passou por reforma. Parreiras nasceu no Rio de Janeiro, em 1860, e morreu também nesse estado, em 1937. Conseguiu se sustentar com seus quadros no mercado das artes entre os séculos XIX e XX.

RELÍQUIA Jornada dos Mártires: visitação pública no Mariano Procópio (Crédito:Divulgação)

GREVE
Os franceses emparedam Emmanuel Macron

FÚRIA Durante uma semana manifestantes irredutíveis protestaram pelas ruas de Lyon: fogo e barreiras (Crédito:Laurent Cipriani)

O fato de a população francesa sair às ruas em protesto contra ações de governo é algo comum, sobretudo na capital Paris. E o ano de 2023 não foge a regra. O presidente Emmanuel Macron enfrenta o sexto movimento grevista contrário ao aumento da idade mínima para aposentadoria — de 62 para 64 anos. A mudança acaba de ser aprovada pelo Senado. As furiosas manifestações foram organizadas por diversos sindicatos e a adesão é significativa. Os números oficiais divergem dos apresentados pelas lideranças sindicais. Segundo a Confederação Geral do Trabalho (CGT), mais de 300 cidades aderiram e 3,5 milhões de pessoas se revezam nas vias públicas, 700 mil apenas em Paris — já o governo diz que foram pouco mais de um milhão. Segundo o Ministério da Educação, ao menos 30% dos profissionais do setor estão participando. O movimento definido como “tsunami social” tem apoio de todo o país, afirmou o comando grevista à imprensa local. A afirmação não pode ser considerada um exagero. Até a quinta-feira 9, suas consequências modificaram o cotidiano. Barricadas com labaredas impediram o fluxo normal de pedestres, escolas foram fechadas, houve diminuição de viagens de metrô e até o serviço elétrico foi prejudicado. Agora, os sindicatos ameaçam com greve geral.

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DESTRUIÇÃO Emmanuel Macron (acima) enfrenta uma greve atrás da outra em seu segundo governo: pontos turísticos depredados