Na última segunda-feira, logo após o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral sobre as eleições presidenciais de 2014, o PSDB finalmente desceu do muro e reafirmou seu apoio ao governo de Michel Temer, em nome das chamadas “reformas”. Uma decisão polêmica, que provocou revolta entre simpatizantes tucanos e provocou defecções na legenda, com desfiliações simbólicas, como a do jurista Miguel Reale Júnior, co-autor da peça jurídica sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff, e a do empresário Ricardo Semler.

Nos bastidores, o que se diz é que o PSDB foi devorado pelo jogo pesado do PMDB. Se a cúpula tucana não enquadrasse os que defendiam a ruptura com Temer e a entrega imediata dos cargos no governo federal, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) também não teria os votos dos peemedebistas no conselho de ética do Senado. Ou seja: o político que quase venceu a disputa de 2014 seria cassado, na maior derrota da história do PSDB. Portanto, os tucanos não apoiaram Temer por vontade própria, mas, como diria o escritor Guimarães Rosa, por precisão. Afinal, estão todos no mesmo barco.

O equilíbrio da aliança PSDB-PMDB, no entanto, é extremamente precário e pode desmoronar já na próxima terça-feira, quando um pedido de prisão formulado pelo procurador-geral Rodrigo Janot será levado ao plenário do Supremo Tribunal Federal. A se repetir a maioria formada no julgamento de um habeas corpus impetrado pela defesa de sua irmã Andréa Neves, Aécio será preso. Ele poderá contar com os votos dos ministros Marco Aurélio Mello e Alexandre de Moraes, mas não com os de Luis Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux, que formam a primeira turma da corte. Se esse prognóstico de 3 a 2 pela prisão de Aécio se confirmar, a moeda de troca do acordão não existirá mais. Portanto, os tucanos não terão mais motivos para se enfileirar nas trincheiras de Temer.

Se a moeda de troca do acordão foi o apoio a Aécio no Senado, tudo pode desmoronar no julgamento do STF

Essa possibilidade de ruptura foi explicitada pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), presidente interino do PSDB, numa entrevista publicada no feriado de Corpus Christi. “Não tenho condições de dizer se Temer é culpado ou não, mas tenho condições de dizer que, praticamente com todo o seu gabinete preso, processado ou pego em flagrante, e as próprias gravações com ele, ele precisa muito rapidamente comprovar sua inocência para levar adiante esse momento difícil”, afirmou.

Nesse ambiente tão conturbado, há um consenso entre os agentes econômicos de que Temer não terá força política para conduzir reformas impopulares como a trabalhista e da Previdência. Ou seja: o governo perdeu a serventia para as forças econômicas que o levaram ao poder e hoje se dedica, apenas, à busca da própria sobrevivência. Muito pouco para um País com a importância do Brasil, que, embora tenha sido colocado em modo autodestruição por sua própria elite, ainda tem capacidade de se regenerar.

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