Antônio Fagundes 

Antes de reestrear a peça “Vermelho”, texto de John Logan baseado na vida do pintor norte-americano Mark Rothko (1903-1970), o ator Antônio Fagundes, 67 anos, identificou a oportunidade de oferecer ao público bem mais que uma nova temporada do espetáculo que havia encenado quatro anos antes. “Nós abrimos os ensaios desde a primeira leitura do texto”, diz Fagundes, que recebeu mais de 400 pessoas no teatro TUCA, em São Paulo, durante as semanas que precederam a estreia. Os interessados pagavam pela experiência — e metade do valor virava desconto no ingresso. “Além disso, em ‘Vermelho’, nós fizemos visitas aos bastidores”, afirma.

A peça ficou em cartaz de 11 de agosto a 4 de dezembro deste ano. A cada apresentação, dez pessoas tinham acesso ao camarim. “Eles ficavam meia hora com a gente, tiravam fotos e viam como é o funcionamento da estrutura por trás do espetáculo”. Outra inovação dessa temporada foi leiloar as obras de arte produzidas em cena. “De uma certa forma a gente leilou as telas mais para integrar a plateia à temática do espetáculo, que trata de artes plásticas e discute o valor da obra artística, o comércio de arte. E foi realmente um grande sucesso, com todo mundo participando do leilão”. Os lances, que partiam do valor de um par de ingressos para a peça, chegaram a R$ 2,6 mil. “Isso ajudou a colocar o espectador dentro do universo da arte e a entender o que faz uma pintura valer, como no caso do Rothko, US$ 84 milhões”, diz Fagundes. Ajudou também a cobrir os custos de produção. Pelo menos das tintas. Para o ator, iniciativas como as que ele adotou têm a intenção de aproximar o público do “fazer teatral”, algo que o que se encaixa perfeitamente em seu propósito de formar plateias — e garantir sua independência dos patrocinadores e leis de incentivo à cultura. “Em 50 anos de profissão eu só tive três patrocínios e fiz mais de 40 espetáculos. É muito melhor saber que está em cartaz porque o público escolheu”, afirma. “Com ‘Vermelho’, nós corremos mais de 10 cidades do Brasil, ficamos um ano e pouco na primeira temporada, e voltamos esse ano. ‘Tribos’ ficou dois anos em cartaz — e todo o investimento para montar a peça foi feito pela empresa que nós constituímos para essa finalidade.

Fagundes, que este ano brilhou também na novela “Velho Chico” ao interpretar Afrânio de Sá Ribeiro, o “coronel Saruê”, é um crítico do financiamento da cultura no Brasil, hoje baseado numa lei de incentivo que ele chama de “nem-nem”: nem é uma política cultural do governo e nem do mercado. “O governo apenas abre mão do imposto, exercendo até uma pequena censura, porque para ter o direito de captar esse recurso, cada projeto precisa passar por uma comissão de pareceristas que decidem o que pode e o que não pode. E também não é uma política de mercado porque transfere a decisão sobre o projeto para a mão de gerentes de marketing das empresas. O gerente de marketing não está pensando em cultura. Ele quer é vender um produto, seja qual for”. Para sair dessa situação, Fagundes entende que o Ministério da Cultura deveria atuar com uma política de incentivo e “dar a cara a tapa”: “Quando você cria uma política cultural, você se coloca”, afirma.

“É muito melhor saber que um espetáculo está em cartaz porque o público escolheu”