No Brasil, os resultados das pesquisas eleitorais movem os políticos para alianças improváveis. Em jogo, o pragmatismo e a sede pelo poder. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, é um bom exemplo dessa prática. Ele vinha relutando em negociar apoio à candidatura de Lula. Ele pretendia aderir à candidatura do petista apenas no segundo turno. Mas, diante da possibilidade do ex-presidente vencer as eleições ainda no primeiro turno, fez Kassab dar início às negociações com o PT. Afinal, o ex-prefeito passou a entender que a candidatura do senador Rodrigo Pacheco está com muita dificuldade para decolar e que seria melhor embarcar logo no barco petista. Nesse caso, o ex-governador Geraldo Alckmin seria vice de Lula pelo PSD. A tendência de crescimento, identificada nas pesquisas, cria uma força de atração e a manada costuma reverenciar quem lidera. E, nesse caso, Lula está sendo amplamente beneficiado.

O senador Renan Calheiros é outro que segue essa lógica. Após receber a visita de Lula, ele não se esquivou de confirmar apoio ao petista. “Se o MDB não tiver um candidato competitivo, é mais consequente fecharmos uma aliança com Lula”. Calheiros não acredita no sucesso da candidatura da senadora Simone Tebet, que foi lançada recentemente pelo partido. Ela não consegue projeção nas pesquisas e não tem apoio dos principais nomes da sigla. Entretanto, essa tipo de costura que Renan está iniciando é rotineira no MDB, que costuma formar a base de apoio ao governo, qualquer que seja ele. Foi assim com os governos do PSDB e também com as gestões do PT no passado.

A regra eleitoral que permite a troca de legendas com apenas seis meses de antecedência das eleições (antes era um ano) favorece as manobras até bem próximo do início do pleito. Grupos menos estruturados e que pretendem aderir ao poder, mudam de partido de olho nos cargos do novo governo, que se formará a partir das eleições de outubro. Todos querem ser amigos do rei. Partidos sem identidade ideológica, maioria absoluta, e o fisiologismo político arraigado, também contribuem para o sucesso da prática. Nesse contexto, os que dizem que a pauta programática definirá os apoios, está faltando com a verdade. É óbvio que PSOL e PSD, por exemplo, que negociam apoio ao PT, não tenham qualquer convergência num projeto de governo. Mas é possível sim, estarem numa frente de coalizão pelo poder que una esses dois opostos.

Dentro do Centrão, PP, Republicanos e PL, esse último, o partido do presidente, há um clima de desconforto, especialmente no nordeste onde Lula lidera com muita vantagem e Bolsonaro vem perdendo espaço a cada dia. A migração de lideranças desses partidos para a campanha de Lula, ou outro candidato que se viabilize pela terceira via, é questão de tempo. As articulações acontecem nas barbas do mandatário. Como se sabe, o ex-capitão não tem experiência em negociações partidárias e ainda não entendeu que fechar o apoio de um cacique regional não é suficiente para manter a adesão de toda a legenda. Esse tipo de manada não é fiel como o gado bolsonarista.

Fora da polarização entre Lula e Bolsonaro, Moro tem atraído a manada da terceira via. Ele aparece em todos os cenários como terceiro colocado e, caso exista uma mudança muito brusca, sua candidatura pode crescer o suficiente para assegurar uma vaga no segundo turno. Mas, para isso, precisa contar com a queda do presidente, que mantém 24% de intenção de votos. E isso não é totalmente impossível. Muitos dos que apoiaram Bolsonaro em 2018, estão agora se perfilando em torno de Moro. É o caso do União Brasil, por exemplo, maior agrupamento político do País. Esse núcleo, formado pelo PSL e DEM, que chegou a namorar com a candidatura do apresentador José Datena para presidente, agora parece ter se definido por apoiar o ex-juiz.

Nas eleições de 2018, Alckmin iniciou a disputa eleitoral com um grupo sólido de dezenas de partidos na sua base de apoio, mas quando houve uma disparada em direção a Bolsonaro, o ex-tucano viu sua campanha derreter. Ali, o efeito manada foi todo a favor do ex-capitão. A campanha ainda não começou e algum fato extraordinário pode mudar o cenário a favor de uma ou de outra candidatura, mas, por enquanto, todo mundo quer fazer acordo com os que estão liderando as pesquisas de opinião. É o efeito manada que segue o líder.