“A maquiagem agora é uma forma de arte. É mostrar ao mundo quem eu sou, como me sinto e me expresso” Vanessa Rozan, maquiadora (Crédito: GABRIEL REIS)

Se os olhos são a janela da alma, é pela boca que muitas personalidades são formada, seja através da fala mansa, seja pelo beijo amoroso ou pela simples escolha de uma cor de batom. “Esse produto é a construção do feminino. É o primeiro item que a criança vai pegar da mãe e passar de maneira instintiva”, afirma a maquiadora Vanessa Rozan. Apesar do isolamento social, que fez com que as mulheres ficassem mais em casa, e o uso de máscaras ter ofuscado a exposição dos lábio, o batom continuou a fazer parte do embelezamento feminino. Tamanha é a importância do cosmético que Leonard Lauder, herdeiro da Estée Lauder, criou um conceito econômico que vai muito além de um produto de beleza ou do poder econômico. Ele define como as pessoas se comportam diante de grandes crises. O quadro é simples: mesmo em períodos de extrema dificuldade econômica, o batom é um item de venda constante e certeira, não só por seu baixo custo, mas também pela autoestima que proporciona a quem o adquire. “Mesmo por baixo da máscara, eu uso um brilho labial ou uma cor clara para não sujar a máscara. E isso não é só vaidade. Ajuda a manter a saúde labial com o frio que faz aqui em São José dos Pinhais”, diz a professora Patrícia Oro. “Se dou uma aula em vídeo, carrego mais na cor. Estou sempre de batom”.

Preocupada com uma possível queda nas vendas, as empresas investiram em tecnologia. Batons à prova d’água e outros que duram até 24 horas. “Você pode comer, colocar a máscara, tirar e vai continuar com um efeito lindo”, diz Vanessa, que reúne mais de um milhão de seguidores no Instagram e raramente está sem batom.

Em tempos de home office

“Tenho o privilégio de poder fazer home office, então passo um batom cinco minutos antes de entrar em uma reunião e é o que muitas mulheres estão fazendo”, diz. Para ela a vaidade não acabou e o mercado da beleza só cresceu. “Antes, a mulher usava batom, pó, lápis preto e máscara para cílios. Hoje há uma infinidade de produtos”, explica. A consultoria McKinsey realizou uma pesquisa global com nove cenários esperados no setor de cosméticos para o período da pandemia e o resultado é otimista para o futuro, embora este ano, por causa da Covid, se espere uma queda de 20 a 30%. Mas a estimativa é que a recuperação será rápida. Já no segundo semestre de 2021, crescerá 35%.

Para a psicóloga e farmacêutica Ana Volpe, que produz uma linha de produtos de beleza, “o batom é identidade da mulher”. Embora ela revenda batons, Ana mostra que os cosméticos de um modo geral estão muito valorizados mesmo tem tempos de pandemia. A linha de eus produtos é voltada aos cuidado com a pele, o chamado Skincare, que foi lançada mesmo durante a crise do coronavírus. Diz mostrou ter lucrado 30% acima do esperado.

Winston Churchill, primeiro-ministro britânico conhecido por suas manobras militares estratégicas e bem sucedidas, teve um papel fundamental na questão do embelzamento da mulher, contribuindo para transformar o batom, principalmente o vermelho vivo, em algo que até hoje significa força, garra e coragem para o empoderamento feminino. Mesmo com o racionamento de diversos alimentos durante a Segunda Guerra Mundial, Churchill tornou obrigatória a distribuição de batons para as mulheres do Exército inglês por perceber o quanto isso afetava a moral das tropas femininas no front de guerra. Cunhou até o slogan “Agora, mais do que nunca, a beleza é seu dever”. Se a História tende a se repetir, na saúde ou na doença, na guerra ou na paz, o batom resistirá aos tempos bicudos.