Durante a campanha eleitoral, o ator Alexandre Frota carregou o então deputado Jair Bolsonaro nas costas e fez de tudo para elegê-lo presidente. Frota se elegeu deputado federal pelo PSL, mas logo rompeu com o governo, transferindo-se para o PSDB. Acabou virando inimigo número um dos Bolsonaros. Agora, como coordenador da CPMI das Fake News, composta por deputados e senadores, Frota assumiu o papel de investigar pessoas ligadas ao presidente e, sobretudo, ao deputado Eduardo Bolsonaro. Para Frota, Eduardo é chefe de um esquema que envolve também o gabinete do ódio no Palácio do Planalto e pelo menos quatorze deputados federais, além de milhares de componentes das milícias digitais que têm por objetivo “o linchamento virtual”. Frota diz que nesta segunda-feira 16 apresentará ao deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara, o pedido de impeachment do presidente.

O senhor diz ter provas do envolvimento do deputado Eduardo Bolsonaro com as Fake News e com o chamado gabinete do ódio. Que provas são essas?
As investigações provam que o deputado Eduardo Bolsonaro é um dos fabricantes dos linchamentos virtuais. Ele é uma das pessoas que incentivam esse tipo de confronto. Existem as milícias digitais trabalhando diretamente com os grupos de publicadores e replicadores. Eduardo é um dos que orienta esse trabalho covarde e insano contra deputados, secretários, ministros e integrantes do STF. No ano passado, até o vice-presidente Hamilton Mourão foi humilhado pela milícia ligada ao Planalto. Na CPMI temos um dossiê mostrando que, em dois meses, o general Mourão sofreu mais de 14 mil ataques e linchamentos virtuais que partiram desse grupo do Planalto. E o presidente Jair Bolsonaro nada fez no sentido de cessar os ataques. As investigações estão avançando, mais do que o deputado Eduardo possa imaginar. Ele acha que controla Brasília, e não controla.

A CPMI está fazendo um trabalho excepcional, com três núcleos de atuação diferentes, e por acaso a milícia do Eduardo está no núcleo que eu coordeno. Já pedimos ao senador Davi Alcolumbre que a CPMI seja prorrogada de abril para junho, tamanho é o volume de informações que temos para processar. São várias quebras de sigilo a serem determinadas pela via judicial.

Eduardo ê responsável pelas fakes news produzidas por sites e blogs como o Bolsofeios, Bolsoneros e Snapnaros, que atacam adversários do presidente Bolsonaro?
O Bolsofeios é apenas um exemplo dessa bandidagem covarde, comandada pelo deputado Eduardo. Bolsofeios está sendo operada de dentro do gabinete dele, por seu chefe de gabinete, o Eduardo Guimarães, por meio de seu celular privado (61-99126-0403). E o IP do computador é do próprio Dudu Guimarães, que está na Câmara a serviço de Eduardo Bolsonaro e de Jair Bolsonaro desde 2006, sempre operando de dentro da Câmara, com recursos públicos. O e-mail que Dudu usa para fazer os ataques pelo Bolsofeios é o mesmo que ele utiliza para pedir passagens, reservar hotéis, alugar carros e trabalhar no dia a dia do gabinete do deputado Eduardo. Está tudo documentado na CPMI. Não tem para onde ele correr.

Não podemos chamar o presidente para depor, por conta das suas prerrogativas. Talvez possamos responsabilizá-lo, mas certamente vamos desmascará-lo” (Crédito:Alexssandro Loyola )

O deputado Eduardo será intimado a depor na CPMI e pode ser responsabilizado pelas fakes news?
Ele será intimado. Não só pode como será responsabilizado criminalmente por essas ações e mau uso do dinheiro público. Ele é um dos responsáveis por esse esquema covarde dos linchamentos virtuais. Convoca, intima, arma as situações, conta com auxiliares orgânicos, com robôs e milicianos digitais. Ele não está sozinho nessa. O esquema é muito grande. Essa rede de intrigas ataca jornalistas, deputados, senadores e até ministros. Os ministros mais atacados são o Gilmar Mendes, o Dias Tofolli e o Alexandre de Moraes. Essa milícia digital também está instalada na Assembleia de São Paulo. Os ataques partem do gabinete do deputado Douglas Garcia. Seu chefe de gabinete, Edson Salomão, é ligado a Eduardo Bolsonaro. Estamos com ordem judicial para quebrar os sigilos das contas de todos eles. Todos promovem ataques escondidos atrás de apelidos, de perfis falsos. Eles são responsáveis por incitar o ódio, como agora nessa convocação para o fechamento do Congresso e do STF, com ataques ao Rodrigo Maia, ao senador Alcolumbre. Em breve vamos apresentar uma lista de pessoas que trabalham nesse esquema, com o apoio do Eduardo, do Carlos, do Olavo de Carvalho, do Alan dos Santos, e por aí vai.

Sempre se falou que o vereador Carlos Bolsonaro era o chefe do gabinete do ódio. Isso significa, então, que os dois filhos do presidente comandam esse gabinete do ódio?
Sim, Carlos e Eduardo, com a participação do Filipe G. Martins, do Fábio Wajngarten e do Alan dos Santos. O presidente Jair Bolsonaro patrocina tudo isso. Ele coloca o Alan dos Santos em todos os eventos da Presidência. Não podemos chamar o presidente para depor por conta das suas prerrogativas. Talvez possamos responsabilizá-lo, mas certamente vamos desmascará-lo. Isso fica comprovado a partir do momento em que o presidente colocou dentro do Palácio do Planalto as três pessoas que participaram de suas redes sociais na campanha, o Tércio Tomaz, o José Matheus e o Mateus Matos, e os instalou ao lado de seu gabinete no Palácio, pagos com dinheiro público, já que foram contratados pela Secretaria de Governo. O presidente não pode alegar desconhecimento de que a máquina do governo é usada para fazer esses linchamentos virtuais medievais, porque foi ele quem trouxe esse pessoal para o governo.

O senhor considera grave isso? Afinal, as fake news são produzidas no Palácio do Planalto com apoio do presidente e sua família. Isso pode ser passível de impeachment?
Considero extremamente grave.

O presidente deve ser responsabilizado. Mas o impeachment de Bolsonaro não virá por causa da rede de intrigas. Virá por causa da manifestação que ele está convocando para este domingo (15) para pedir o fechamento do Congresso e do STF. Ao disparar vídeos para a milícia digital dele, pedindo a tomada do Congresso, um novo AI-5, convocando, intimando e incitando os bolsonaristas a comparecerem a um ato extremamente antidemocrático, o presidente comete crime de responsabilidade, desrespeitando o artigo 85 da Constituição, que trata dos crimes de Responsabilidade do Presidente da República. Essa manifestação vai contra o livre exercício do Poder Legislativo e do Poder Judiciário. Com base em pareceres de quatro juristas, vou propor o impeachment de Bolsonaro logo nesta segunda-feira 16. Sei que não há clima para a convocação do impeachment já, mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ficará com meu pedido na gaveta. Tão logo haja clima para o impeachment, Rodrigo tira meu pedido da gaveta e levamos o assunto ao plenário da Câmara.