PRAZO Antes da pandemia o agendamento
era feito em uma semana, conta a profissional de empresa que auxilia nos vistos de estudantes (Crédito:MARCO ANKOSQUI)

Estudantes brasileiros que conquistaram bolsas em universidades americanas vivem o drama de perder o benefício por conta das severas restrições para a concessão de vistos de viagem nos consulados. Há casos em que o drama se arrasta há mais de um ano, agravado pelo desinteresse do governo em colaborar para solucionar o problema. O único alento diante da crise foi a demissão do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que contribuiu para o menosprezo das autoridades brasileiras e levou o País à condição de pária internacional. No circuito americano, o ano letivo começa a partir de julho. O prazo para se adquirir o visto nas categorias F e J é curto.

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Do estado de euforia por ser aprovada no mestrado na Columbia Law School, a advogada Pilar Wagner Martins passou para uma condição de frustração. A alternativa foi pressionar o Itamaraty por meio de uma carta com 1.134 assinaturas pedindo socorro. “Tenho a sensação de que uma ação coletiva será mais efetiva do que as ações individuais”, disse advogada, de 29 anos. O documento ressalta que o progresso no combate ao coronavírus, especialmente, com a vacinação em massa, alterou o estágio do ensino nos EUA, que exige aulas presenciais. Os estudantes apontam como solução a inclusão dos vistos como “national interest exception”, assim como fizeram outros países.

Com enredo idêntico, os alunos são informados duas semanas antes da entrevista no consulado americano que a entrevista foi cancelada. O novo prazo estipulado é sempre numa data que inviabiliza a viagem. A mais promissora jogadora de golf da seleção brasileira, Beatriz Junqueira, pode perder a bolsa de estudos integral que conquistou no curso de administração na Indiana University Bloomington. Aos 19 anos, Beatriz integra o grupo de atletas do comitê olímpico. No sistema americano, os jovens esportistas com bolsa têm o prazo de dois anos para iniciar os estudos. “Não estou perdendo a bolsa apenas. Corro o risco de perder a carreira inteira”, lamenta a estudante.

JUNTOS Pilar ajudou a redigir a carta pedindo ajuda ao Itamaraty (Crédito:Divulgação)

O engenheiro Thiago Bianchine Moura pediu exoneração do cargo concursado na Petrobras, que ocupava desde 2012. A motivação principal foi ter recebido uma bolsa de estudos de 60% na Brigham Young University para um MBA em negócios. “Fiz uma grande aposta num curso que eu queria muito fazer. É uma excelente oportunidade”. Com 34 anos, ele tem esperança de conseguir o visto, mas o imbróglio prejudicou os seus planos.
A empreitada pelo estudo nos EUA mobilizou o casal de economistas Gabriela Peres Vilela de Carvalho e Patrick Kerr Nogueira Mendes, com 29 e 30 anos, respectivamente. Eles foram aprovados para um MBA na USC Marshall com US$ 90 mil de bolsa. O sonho da especialização internacional virou um pesadelo. O casal tinha planos ambiciosos. “Pedi demissão, vendi todas as minhas coisas, inclusive apartamento mobiliado, e não pude realizar nosso sonho”, disse Gabriela. Ela já vive essa situação desde 2020 e conta que teve sorte porque a universidade permitiu trancar o curso, mas explica que perderá a vaga se não tiver o visto até agosto.

GOLFISTA Beatriz pode perder bolsa e ter carreira arruinada (Crédito:Divulgação)

Jeitinho

A alternativa encontrada por alguns estudantes foi viajar para um terceiro país e lá tentar tirar o visto. Além do elevado custo e da quarentena necessária, de 15 dias, não há nenhuma garantia de que se tenha êxito no jeitinho brasileiro. A executiva de contas da empresa Mundo dos Vistos, Beatriz Bartolomei, disse que antes da Covid o agendamento das entrevistas era feito em uma semana e agora só tem agendamento para o fim do ano. “As viagens prioritárias são apenas para pesquisadores relacionados à pandemia”, afirmou. O Brasil era o 9º país com mais estudantes nos EUA em 2019 e as universidades americanas já declararam que a presença estrangeira é imprescindível. O que mais choca, no entanto, é o vergonhoso descaso do governo brasileiro.