É sempre um grave ataque à humanidade, à democracia e ao Estado de Direito as falas de autoridades políticas (portanto, públicas) que tentam relativizar o número de vítimas de tragédias, como a pandemia pelo vírus SARS-Cov-2, ou o número de vítimas de regimes de exceção, a exemplo da ditadura militar instaurada no Brasil em 1964 e que se alongou até 1985.

Em relação à pandemia, vemos Jair Bolsonaro e seu ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, com absurdos pronunciamentos na linha “não sei a razão de tanta pressa para vacinar crianças”, “não há emergência”, “não estão morrendo tantas crianças que justifique a vacina”. E por aí vai.

É importante ressaltar que não importa se morreu 1 criança na faixa etária que abrange dos 5 aos 11 anos de idade, ou se morreram cerca de 300 dentre as 3 mil pessoas, de 0 a 19 anos, que faleceram devido ao vírus.

A relativização de vítimas pela aritmética é, no mínimo, caminho pavimentado para que mais vidas se percam, enquanto os obrigatórios responsáveis pelo cuidado com a população exercem suas estultices – o negacionismo é uma delas.

Pois bem, também ainda é corrente no País, por incrível que possa parecer, o discurso de que aqui a ditadura militar foi “mais branda” que no Chile e na Argentina, afinal não se viram palácios bombardeados e menos opositores políticos tiveram seus corpos torturados e desaparecidos, depois de assassinados por algozes da repressão.

Também nesse caso não importa se foram 400, 500 ou milhares de perseguidos – bastaria 1 adversário político ter sido supliciado e a situação se faria igualmente criminosa.

É incrível como esses dois tipos de discursos (o da pandemia e o da ditadura) se aproximam nas áreas da psicologia social e do comportamento. São primos em primeira grau.

Eis um relevante lembrete: o capitão Bolsonaro vive a elogiar o já falecido Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais notórios torturadores da ditadura militar.