30/05/2024 - 8:00
O papel-moeda está com os dias contados no Brasil. De acordo com um estudo da The Global Payments Report da Worldpay 2024, o uso de dinheiro em espécie nas transações financeiras no País está diminuindo rapidamente. Em 2019, as cédulas representavam 48% dos pagamentos, enquanto em 2023 esse número era de apenas 22%. A projeção é que em 2027, somente 12% das transações sejam feitas com dinheiro vivo.
“Um dos principais motivos é a questão da segurança. Os estabelecimentos comerciais tinham receio de ficar usando dinheiro em espécie, que chama muita atenção causa assaltos no fechamento do caixa. Desse modo, não ter o dinheiro em papel-moeda passou a ser uma forma de proteção para esses lojistas”, diz Mauricio Salvador, presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).
Em contrapartida, as carteiras digitais estão se tornando cada vez mais populares, especialmente no comércio físico. “Há a questão da segurança no que diz respeito à gestão das finanças próprias. Outro ponto é a rapidez para bloqueio do meio de pagamento em caso de algum problema. Em pagamentos com o cartão digital por meio do celular, é possível fazer o cancelamento por meio de um computador, por exemplo, ou pelo aplicativo de um conhecido”, explica Salvador.
O estudo também aponta que o PIX, sistema de pagamento instantâneo do Banco Central, está crescendo rapidamente, ganhando credibilidade e já é o método de pagamento mais utilizado no Brasil, ultrapassando o cartão de crédito.
O levantamento mapeou 40 países e mostrou que o Brasil está à frente não só em toda a América Latina na redução do uso de papel-moeda, como também em relação a alguns países desenvolvidos, como Japão e Alemanha, cujas previsões são de 31% e 29% até 2027, respectivamente, na digitalização dos pagamentos.
No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar países como Austrália e Noruega, onde o uso de papel-moeda é mínimo, menos de 20% em 2019 e deve representar no máximo 5% das transações até 2027.
“Desde a chegada do PIX, em 2020, 73 milhões de pessoas que antes só usavam o dinheiro vivo começaram a usar a moeda digital e outros serviços bancários. A sociedade está se digitalizando.”
Ralf Germer, CEO e Cofundador da PagBrasil
O estudo destaca o comprometimento do Banco Central do Brasil em impulsionar a modernização dos meios de pagamento, e o PIX é citado como uma iniciativa governamental bem-sucedida nesse sentido.
“Desde a chegada do PIX, em 2020, em torno de 73 milhões de pessoas que antes só usavam o dinheiro vivo começaram a usar o PIX e outros sistemas digitais. A sociedade está se digitalizando e acredito que o pagamento instantâneo seja o fator principal, levando em consideração que é gratuito e que o dinheiro cai imediatamente na conta do recebedor”, explica Ralf Germer, CEO e Cofundador da PagBrasil, empresa de tecnologia especializada em pagamentos digitais.
• As carteiras digitais devem competir com o PIX no comércio físico, oferecendo aos consumidores mais opções de pagamento e potencialmente reduzindo custos.
• Já no cenário atual, o cartão de crédito, que era preferido por 36% dos consumidores brasileiros, em 2027 perderá esse posto, de acordo com a Worldpay.
• A carteira digital, que hoje tem 18%, em 2027 deverá assumir o primeiro lugar com 41%.
“Não acredito que as carteiras digitais vão competir com o PIX. Acredito justamente no contrário: o PIX vai conquistar a quota de mercado de todos os métodos de pagamento, incluindo as proprietárias das carteiras digitais”, discorda Germer.
No comércio eletrônico, espera-se que os pagamentos diretos, como o PIX, se tornem o método mais comum até 2027. Os cartões de crédito lideraram os volumes transacionados no comércio eletrônico nacional no ano passado, com uma fatia de 40%, enquanto o PIX ficou com 30%.
Entretanto, essas posições devem se inverter, e o PIX pode chegar a um percentual de 50%, com o cartão de crédito caindo para 27% na escolha dos clientes.
É importante, no entanto, destacar que essa tendência também possui seus prós e contras. A redução no uso de papel-moeda pode impactar a economia, já que ainda existe uma parcela significativa da população que não tem acesso às modalidades digitais. É necessário encontrar soluções para incluir essa população na economia digital, garantindo que ninguém fique à margem desse avanço.
“Apesar da segurança e eficiência tanto do PIX, como das carteiras digitais, corremos o risco de que a população mais carente continue à margem desse processo econômico”, pontua o presidente da ABComm. Essas mudanças trazem benefícios em termos de segurança e eficiência, mas também exigem estratégias para garantir a inclusão financeira de toda a população.
O futuro dos pagamentos no Brasil é digital, e é importante que todos possam participar desse avanço.