Sem dinheiro para investir em tecnologias que modernizem seus serviços e carregando uma estrutura gigantesca nas costas, com quase 100 mil funcionários, os Correios se tornaram um grande elefante branco: lento, pesado e lutando para sobreviver aos novos tempos. Seu grande impasse agora é elaborar sua privatização enquanto negocia com os empregados em greve e a população aguarda suas entregas na pandemia.

O governo até tenta acelerar a venda da empresa, uma das bandeiras da campanha presidencial. No último dia 20 de agosto, o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) escolheu o consórcio Postar para fazer os estudos sobre o negócio. Mas enquanto isso não acontece, o debate inclui acusações por parte dos servidores de que os Correios continuam abrigando indicações políticas em seus quadros e hoje os militares dominam sua cúpula. São pelo menos 14 oficiais da reserva que ocupam cargos de alto escalão na empresa. Os trabalhadores alegam que a militarização já reduziu qualquer espaço para o diálogo. Dizem também que enquanto se fala em um plano para economizar até R$ 600 milhões por ano com corte de benefícios, gasta-se com a ampliação dos quadros de assessores de diretoria, que custariam R$ 26,4 mil por mês. A empresa desmente o valor e informa que o salário é de R$ 15,9 mil. Até o ex-secretário de Desestatização Salim Mattar jogou a toalha e afirmou que a demora na privatização é causada pelos militares e não pelo Congresso. “Falar de privatização sempre causa ruído e traz o debate do liberal versus o sindicalista, o que é um equívoco”, diz o professor Marcio Holland, coordenador do Observatório das Estatais da FGV. Mas o fato é que os Correios precisam passar por uma transformação urgente e sem recursos privados não vai conseguir. Cartas e telegramas já não sustentam mais seu negócio.