Criada pelo dramaturgo William Shakespeare e colocada em um dos principais diálogos entre os personagens Hamlet e Horácio, a frase “há mais mistérios entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia” é uma das mais sábias construções do pensamento humano. A partir desse princípio pode-se perceber que a humanidade ainda tem que dar muitos passos para compreender tantos segredos do universo — e alguns deles estão materializados entre nós. Em 2004, por exemplo, veio a público um raríssimo diamante negro, o maior que existe em nosso planeta, com cerca de seiscentos quilates. Voltou a ser notícia agora porque na semana passada foi levado leilão pela Sotheby’s, de Londres. A preciosidade foi arrematada por aproximadamente US$ 4 milhões, valor já estimado pelos especialistas de diversos países.

Eles ainda buscam esclarecimentos para uma série de questões que cercam o diamante. Alguns estudiosos acreditam que ele possa ter vindo do espaço. Pura maluquice? Não. A hipótese é plausível, uma vez que nele há a presença de diversos outros minerais que vagam na imensidão do Cosmos. Nesse caso, seria um asteroide que teve os seus elementos químicos transformados no impacto com o solo terrestre. Pedras preciosas do mesmo tipo, mas não com a mesma grandiosidade, já foram encontradas no Brasil e na região central da África.

Nada impede, no entanto, que a pedra preciosa seja originária da própria Terra

Nada impede, no entanto, que o diamante seja originário da própria Terra. “Bastariam alta pressão e alta temperatura agindo sobre a pedra por muitos anos para que ela ganhasse a forma que ganhou”, explica Thiago da Cruz Canevari, coordenador do curso de Química da Faculdade Mackenzie, em São Paulo. Mais uma incógnita: qual é a idade desse tesouro? Não se sabe ao certo, mas se estima que ele possa ser datado entre 2,6 e 3,2 milhões de anos. O anônimo ex-proprietário da gema, que o colocou em leilão, só tornou público o fato de possuí-lo há duas décadas. Como se trata da maior pedra preciosa desse tipo já descoberta, ela passará a constar do Guiness Book of World Records. Um magnífico fenômeno é que o diamante chegou à beleza que ostenta por obra exclusiva da natureza, sem a intervenção humana de trabalho de lapidação. Historicamente, os diamantes de cor preta foram preteridos para design de jóias e serviam apenas em áreas específicas da indústria. “Isso mudou. Com o tempo essas peças passaram a ser valorizadas pelas grifes”, diz Gracia Baião, gemóloga do Instituto Brasileiro de Gemas & Metais Preciosos.