08/03/2022 - 11:33
Hoje, terça-feira, 8 de março, é Dia Internacional da Mulher. Agora, amanhã e sempre será impossível dissociar essa data da ofensa que Arthur do Val fez às mulheres de todo o mundo. Do Val ofendeu não apenas as brasileiras porque ele é brasileiro, não apenas as ucranianas porque se referiu diretamente a elas em sua fala cafajeste – ucranianas, jamais esqueceremos, que ele viu passando fome, sede e medo nas quilométricas filas dos que tentam emigrar da Ucrânia para se livrar da sanha assassina do presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Qualquer ser humano, dotado de um mínimo de empatia, teria se colocado no lugar emocional dessas pessoas das filas, sem sequer distinguir homem ou mulher, adulto ou criança, jovem ou idoso. Teria “enxergado” (no campo psicanalítico) e teria “sentido” (no campo sociológico) a dor do outro, isso sim. Teria visto gente!
Do Val, que utiliza na política o infantilizado slogan “Mamãe Falei”, preferiu gravar um áudio com comentários ofensivos, machistas e sexistas em relação às ucranianas que, com certeza, ali estavam por diversos dias, noites e madrugadas sem se refazerem da exaustão, aguardando a chance de partir e para não morrerem explodidas com as bombas que voavam sobre suas cabeças.
O ápice de tais áudios é quando Do Val diz que as ucranianas “são fáceis porque são pobres”. Ou seja: também para ele, mulher pobre significa mulher que facilmente se prostitui? Do Val deixa transparecer (e agora juntemos a área psicanalítica com a sociológica) uma dose de prazer doentio diante da condição de vulnerabilidade de uma mulher – e quem mais vulnerável que um ser humano em uma fila em meio a bombardeios?
Ele admitiu o erro (o que em nada o justifica nem torna tal erro menor), alegando que foi uma reação de momento. Pois é, são mesmo nesses instantes que se conhece uma pessoa. “Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui. O verdadeiro valor do homem é seu caráter, suas ideias e ideais”, ensinou-nos Charles Chaplin.
A reação das mulheres no Brasil, contra a atitude de Do Val, foi imediata. Isso mostra a união e a força que hoje elas possuem para não mais tolerar abusos.
Infelizmente, no Brasil, uma mulher é assassinada a cada seis horas, por questão de gênero, sem que as autoridades masculinas tomem eficazes providências para estancar essa sangria. O Dia Internacional da Mulher, oficializado pela ONU em 1975, nasceu do sangue e cinzas de cento e trinta tecelãs que durante uma greve em Nova York, na qual exigiam paridade com os homens nas condições de trabalho e nos salários, foram incineradas após serem trancadas por agentes masculinos em uma das fabricas.
O Dia Internacional da Mulher nasceu de luta. E continua sendo de muita luta. As ucranianas, solidárias umas com as outras nas filas e na divisão de um pequeno pedaço de miolo de pão, são hoje o símbolo maior dessa jornada.