O momento em que Lionel Messi conseguiu se firmar na seleção argentina foi quando Diego Maradona, como treinador, lhe transmitiu seu poder simbólico e sua autoridade futebolística.

Messi custava a se acertar na equipe Albiceleste. Havia um desconforto entre os torcedores. Mas a parceria pôde finalmente acontecer na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.

“Prepare-se, Leo, você vai ser o capitão”, disse Maradona a Messi, então com 22 anos, antes do jogo com a Grécia, na fase de grupos. O jovem craque da cidade de Rosário ficou sem palavras, surpreso e sorridente.

Maradona, o eterno ídolo que morreu nesta quarta-feira (25) de parada cardíaca aos 60 anos, havia decidido fazer um rodízio com a braçadeira de capitão.

Messi estava feliz, mas preocupado. “E o que devo fazer ou dizer?”, perguntou ele ao experiente Juan Verón. “Vamos te ajudar”, respondeu ele.

E o ajudaram. Antes de entrar em campo, Messi vacilou no momento da preleção com os demais jogadores.

“Travei”, confessou à AFP com um sorriso. Seus companheiro o apoiaram e nessa noite o atacante brilhou. Venceram por 2 a 0.

– Maradona ‘rebatizou’ Messi –

Aquela passagem de braçadeira foi mais do que um ato formal. Messi ainda não tinha liderança.

Os torcedores repetiam, como uma ladainha: “Ele não canta o hino”, “não corre”, “fica olhando para o chão”, “não sente a camisa” e “joga melhor no Barcelona”, entre outras reclamações de arquibancada.

O que não funcionava começou a funcionar. Desde o início, Maradona conseguiu fazer com que Messi se compenetrasse. Foi como um segundo batismo com a Albiceleste.

“Eu vivi a época dele como treinador da seleção e a verdade é que ele gostou muito, viveu isso ao máximo”, lembrou Messi.

O astro do Barcelona se entendeu às mil maravilhas na África do Sul com Gonzalo Higuaín, Carlos Tevez, Maxi Rodríguez, Ángel Di María. O time engrenou e venceu a Nigéria (1-0), Coreia do Sul (4-1) e o México, nas oitavas de final (3-1).

Mas Maradona teve que deixar o cargo após a dolorosa derrota para a Alemanha (4-0) nas quartas de final.

Os paradoxos impensáveis do futebol deixam estatísticas estranhas. Messi não marcou nenhum gol na África do Sul, mas começou a se tornar o homem-chave.

– Quem foi melhor? –

Nas injustas comparações, Maradona será o eterno herói da seleção argentina. Por outro lado, Messi, o ídolo do século 21, o supera em gols na Albiceleste com folga: 70 contra 34.

A dívida dele é não ter conquistado nenhum título com a seleção principal, ao contrário do craque nascido em Villa Fiorito, que alcançou a glória na Copa do Mundo de 1986, no México.

Sem Maradona como técnico, os problemas voltaram para Messi. “Ele não tem com quem jogar. Ninguém se mexe para receber o passe”, disse certa vez Ricardo Bochini, várias vezes campeão pelo Independiente e o jogador que o jovem Maradona mais admirava quando assistia aos jogos nas arquibancadas.

Tentaram comparar os dois, mas é inútil. Viveram tempos muito diferentes. O futebol mudou. A pressão e a velocidade do jogo hoje se multiplicaram.

A pergunta continua sendo feita. Pelé certa vez disse: “Para mim, Maradona foi um dos melhores jogadores que já existiram. Se foi melhor do que Messi? Foi muito melhor.”

Outra opinião importante é a do craque sueco Zlatan Ibrahimovic: “Maradona venceu o Mundial e para mim é o melhor da história. Mas Messi ganhou muito mais do que ele”.

Messi venceu tudo o que foi possível no Barcelona e quando não festejou, em 2020, esteve prestes a deixar o clube catalão. Ele quebrou recordes até a exaustão.

Maradona disputou 58 partidas com a camisa do Barça e marcou 38 gols. Ele ganhou uma Copa do Rei, uma Copa da Liga e uma Supercopa da Espanha. O astro saiu após discussões nos bastidores e uma oferta do Napoli que ele não podia e não iria recusar.

Depois veio o ciúme de Maradona. “Não vamos endeusar mais ninguém”, criticou o ex-Boca Juniors.

A verdade é que são eternos donos da bola e da camisa 10. Um entrou para a história como o ‘D10S’ da seleção argentina e o outro como um rei da Albiceleste sem coroa.

dm/nn/ol/aam