O dia em que descobri a idade de Glória Maria

O dia em que descobri a idade de Glória Maria

A minha história com Glória Maria começou como a de muita gente: assistindo à distância a suas reportagens na Globo, admirando sua coragem e até invejando suas oportunidades de viajar, comer coisas diferentes, conhecer pessoas e culturas novas e passar por inúmeras “situações limite”. Esse sempre foi o meu estilo de jornalismo, apesar de, muitas vezes, não ser fácil pagar as contas fazendo aquilo que se gosta.

Quando fiz 18 anos, ela, assim como inspirou outras colegas, tornou-se também um dos meus ícones na profissão que escolhi seguir.

Não demorou muito para, finalmente, aproximar-me intimamente de Glória. Foi como jornalista de uma revista de celebridades, da editora Abril, em 2008. Ela havia acabado de voltar de uma viagem de autoconhecimento, meditação e voluntariado e, apaixonada por suas aventuras, decidi pedir fotos da viagem em primeira mão para uma reportagem.

É surpreendente a quantidade (e a qualidade) das informações às quais os jornalistas têm acesso no trabalho em redação.

Temos acesso aos nomes completos, números de telefone, endereços e documentos dos famosos mais requisitados (e seus parentes) registrados, geralmente, em planilhas de Excel sob o título “Contatos”.

Peguei o telefone e liguei diretamente para ela. Muito solícita, adorou detalhar sua “vivência” (até então ninguém usava essa palavra para se referir a viagens) e enviar, por email, as fotos autorais em primeira mão. Reuni tudo e publiquei na versão online da revista.

Nessa época, pasme, impresso e online trabalhavam lado a lado, porém, com uma certa rivalidade. Quando a versão web “furava” o papel, quer dizer, dava a notícia antes da edição semanal nas bancas, havia discussões acaloradas, levadas (e elevadas) até os maiores níveis hierárquicos. Tive medo de ser demitida.

Outra passagem nesse nosso primeiro contato, e que resume o imenso apreço dela pela língua portuguesa, foi uma ligação após a matéria ir ao ar.

Era ela, querendo que eu revisasse a construção do texto.

Descobri que, além de ser vaidosa com a aparência, Glória também era com o conteúdo. Ela queria deixar tudo claro e usar as palavras corretas, perfeitamente adequadas para aquela experiência.

A jornalista havia sentido a elevada espiritualidade (e até a alegria) de pessoas que viviam na absoluta pobreza e estava surpresa com a resiliência de uma determinada família indiana que conheceu.

Nossa correspondência se repetiu muitas vezes e ela sempre mandava fotos por email, como quem sugere uma pauta interessante sobre si mesma.

Curioso que, nessa publicação, era (e ainda é) obrigatório mencionar a idade dos famosos entre parênteses logo após o nome. Glória era a única que tinha o privilégio de ser poupada dessa regra.

Eu sempre perguntava, mas ela sempre evitava a resposta, às vezes, até de forma meio ríspido.

Anos depois, na editora Globo, num dia qualquer, entre um cafezinho e uma apuração, a secretária de redação fez história na minha vida e na de alguns colegas, certamente.

Ela havia recebido uma cópia, uma imagem, um jpg do famigerado RG de Glória Maria. Lá estava a data de 15 de agosto e o ano de nascimento da apresentadora.

Tendo em mãos o tal documento, ela lançou uns dois ou três “psiu, psiu”, chamou uns quatro de nós até a mesa e disse: “Olhem, a data de nascimento de Glória Maria”.

A revista em que trabalhava havia feito um convite para algum evento ou viagem e, para registrá-la, fazia-se necessário  apresentar um documento com foto. Por isso, Glória havia enviado.

Nesse dia, eu vi a idade de Glória Maria. Claro que pedi para fazer uma cópia, mas a prova logo foi guardada e o assunto também.

No aniversário de 2013, negando ter nascido em 1949, disse-me, para outra reportagem: “Não queria uma cara nem uma bunda melhor”. Pow! Tinha o título de milhões (de cliques). Ela sabia se destacar!

O dia em que descobri a idade de Glória Maria

Mulher ocupada, Glória Maria me mandava fotos em emails sem título ou texto

E, por email, como de costume, passou fotos com as filhas, amor que falou mais alto que a paixão pelas viagens e virou nosso monotema nos anos seguintes.

Hoje, relembrando essas passagens e revendo os emails que trocamos (já que os links dessas publicações se perderam com o tempo), entendi que a idade, como já sabia Glória, é, realmente, irrelevante.

Pra que contar em anos uma vida, já que sua grandeza se mede em fugazes instantes?