Janaína seria uma ótima pessoa, não fosse o gênio intragável.

Era Touro, dizia sempre.

– …e com ascendente em Leão! Comigo ninguém conta farinha, não. – fazia nãozinho com o indicador sincronizando com a cabeça.

O marido Maurício era Câncer.

Aceitava tudo da mulher.

Um submisso, diria Zoca, seu amigo de infância que era Áries convicto, encrenqueiro.

– Resiliente um cazzo, Mauricio! Você virou um bosta dum submisso, como bom canceriano.

– Não sou submisso…sou Câncer…Câncer é alma velha… – ele murmurava cabisbaixo girando a colher no café.

Aos poucos, Mauricio foi se isolando.

A Lua em Capricórnio faz isso.

Foi desistindo do contato com amigos.

Vivia de casa para o trabalho, do trabalho para casa.

A mãe de Janaína, equilibrada, aconselhava a filha:

– Jana…Jana…aceita um conselho de uma Libriana? Você ainda perde esse homem.

– Mãe, eu sou Touro.

– Eu sei filha…mas não pode…onde já se viu jogar um cinzeiro no homem?

– Mas mãe, a culpa agora é minha??? Touro é assim mesmo, o que que eu posso fazer?

A mãe se via forçada a concordar.

Touro é fogo.

Assim, aos trancos e barrancos, já iam para três anos de casados.

Quando o primeiro filho nasceu, Aquário, Jana não deixou que se chamasse Mauricio Alberto.

– Mauricio Alberto é nome de babaca.

– Mas amor…eu me chamo Mauricio Alberto…

– Então.

Deram azar. A criança chorava a noite toda.

– Ai gente, Aquário é mimadinho mesmo, um fofo. – dizia a sogra, não a de Libra a outra, Virgem, mãe do Mauricio.

Mauricio era mesmo um santo, porque com a chegada do segundo filho, Aquário também, o gênio de Janaína piorou muito.

Não deixava nem uma única frestinha para Mauricio respirar.

Implicava até com o jeito dele segurar os talheres.

– Parece um caminhoneiro.

– Mas amor…

Os filhos cresceram, se formaram e nada de sair de casa.

– Aquárianos…se você não ficar esperta vão morrer na sua saia, Janaína. – aconselhava a mãe. A de Libra.

– Vão nada mãe. Já, já voam. Fiz o mapa dos dois e deu a mesma coisa.

Mas não voavam.

Mauricio, já passado dos sessenta anos, não falava mais com ninguém.

Ficava o dia todo no iPad.

– Submisso do cacete. – insistia há 30 anos o Zoca.

– Não é isso. É que eu nasci no quarto crescente. Sou quieto mesmo, introspectivo, circunspecto…

Zoca fingia roncar, de puro desprezo.

Ano passado os filhos saíram de casa.

Os dois.

Foram morar com as namoradas, as duas Sagitário, mas traziam a roupa para lavar em casa.

– Não negam o signo mesmo, nem os meninos, nem as respectivas – a mãe, amarga, aceitava, lavava e passava tudo.

Um dia Janaína saiu do banheiro resmungando e deu de cara com Mauricio apontando um revólver para seu coração.

Revolver Taurus, veja você a ironia.

Morreu com um tiro só.

Mauricio se entregou sem reagir.

Todo mundo caiu de pau em cima dele.

Promotoria, associação de defesa dos direitos humanos, das mulheres.

Até o Presidente interino disse que a violência contra a mulher precisava acabar.

Que aquilo era uma vergonha.

Pena exemplar, exigiu o promotor, leonino radical.

Trinta anos.

Zoca, a sogra, os filhos, ninguém entendeu o extremo a que Mauricio chegou.

Só a mãe, a Virgem, entendeu.

Em casa, a mulher confessou ao marido, canceriano:

– Eu deveria saber. Ascendente em Escorpião…uma hora a ferroada vem. – aceitaram submissos.