O ministro da Economia, Paulo Guedes, só acerta projeções negativas e é um oráculo às avessas. Na primeira semana de março de 2020, o ministro disse que se o governo fizesse “muita besteira” o dólar chegaria a R$ 5. E uma semana depois, a moeda americana superou esse valor pela primeira vez desde 1994. Cansados com as más previsões do ministro que se concretizam e com as boas que não se materializam, críticos bem humorados colaram na Avenida Brigadeiro Faria Lima, centro financeiro da capital paulista e do Brasil, cartazes com um trocadilho na língua inglesa: “Faria Loser”, ou “perdedor da Faria”, com a foto de Guedes. Os cartazes espelham o mau humor dos investidores com o ministro — em agosto, a B3, bolsa de valores brasileira, fechou com queda de 2,48% no Ibovespa. No acumulado de janeiro a agosto, o Ibovespa recuou 0,20%, uma raridade entre as bolsas ao redor do mundo, que se aproveitam do excesso de liquidez no sistema financeiro mundial. Em 1º de setembro, mais uma notícia ruim: o PIB brasileiro caiu 0,1% no 2º trimestre de 2021.

Colada no último dia 29, toda a sátira na Faria Lima foi arrancada ou vandalizada um dia depois. Mas a mensagem permaneceu. A frase “Faria Loser” remete ao termo, geralmente pejorativo, que os paulistanos usam para os “Faria Limers”: jovens ou não tão jovens que trabalham nas corretoras e bancos de investimentos concentrados na avenida. Os “Faria Limers”, porém, precisam fazer promessas factíveis aos clientes das corretoras, que compram e vendem ações, títulos, debêntures, ouro e outros ativos na B3. Já o ministro, que presta contas apenas ao mandatário Jair Bolsonaro, faz promessas como um mitômano. A última obsessão de Guedes é dar calote nos precatórios da União e usar o dinheiro para turbinar a reeleição de Bolsonaro em 2022, quando a União deveria pagar precatórios de R$ 89 bilhões. As tentativas do ministro em parcelar os pagamentos assustam os investidores, que fogem da bolsa para a renda fixa.

“Esse negócio de parcelar os precatórios pode dar um baita problema. Os investidores ficarão muito assustados com o Brasil. São dívidas de 20, 30 anos que o governo federal tem de pagar. É uma matéria já julgada pelo STF”, diz Claudio Considera, pesquisador associado do FGV IBRE. Considera avalia que Guedes está “muito desprestigiado” no próprio governo, pois só soube sábado, 28, que a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) preparava um manifesto pela “harmonia entre os poderes”. “Um ministro da Economia tem como saber antes o que acontece em uma entidade como a Febraban. Por isso, foi um desprestígio que ele não soubesse”, avalia Considera. Segundo ele, a erosão da imagem de Guedes decorre da falta de capacidade política de o ministro dialogar com o Congresso para avançar em temas que ele próprio defende, como as privatizações. “O ministro não faz as negociações políticas para que as privatizações passem no Congresso”. Outro problema é que ele usa uma linguagem agressiva. “Trabalhei com o ministro Pedro Malan e ele jamais, nem mesmo reservadamente, falava as bobagens e usava a linguagem que o Guedes usa”, diz Considera, que foi secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Economia no 2º mandato de FHC.

Linguagem tosca

Desde que assumiu o cargo, Guedes passou a usar uma linguagem agressiva, que não é comum — pelo menos publicamente — para banqueiros. Em 7 de fevereiro de 2020, o ministro criticou o aumento dos salários aos funcionários públicos e comparou-os a “parasitas”. “O hospedeiro está morrendo. O cara virou um parasita, o dinheiro não chega ao povo e ele quer aumento automático”, declarou em um seminário. Alguns dias depois, o ministro voltou à carga, ao dizer que antes “empregada doméstica ia à Disney” quando o dólar estava menos caro, criticando a política cambial dos antecessores. “O câmbio estava tão barato que todo mundo estava indo para a Disneylândia”, arrematou. Em abril de 2021, o ministro deu mais uma declaração desastrosa, quando criticou o Fies, programa de financiamento federal para que estudantes consigam pagar universidades particulares. Guedes disse que mesmo quem “não tinha a menor capacidade” e “não sabia ler nem escrever” conseguiu entrar na faculdade com o Fies. Ele disse que o filho do seu porteiro, que zerou na prova do vestibular, conseguiu entrar em uma faculdade, o que era mentira.

Guedes também atacou a China e as vacinas desenvolvidas pelos chineses. “O chinês inventou o vírus e a vacina dele é menos efetiva que a do americano. O americano tem 100 anos de pesquisa”, falou o ministro, em reunião gravada em 27 de abril deste ano. O ministro errou mais uma vez. A “vacina americana” à qual ele se referia, a da Pfizer, foi desenvolvida por um casal de cientistas turcos da BionTech, na Alemanha. Como resultado dessa retórica bombástica, Guedes tem pouquíssimas realizações a apresentar. A Reforma da Previdência, aprovada no início do atual governo, foi desenhada pelo Ministério da Economia do presidente Michel Temer. A economia cresceu 1,3% em 2019, caiu 4,1% em 2020 e crescerá no máximo 5% neste ano. Guedes corre o risco de passar para a história como o ministro dos “voos de galinha” do PIB brasileiro.

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Os erro$ de Guedes
O ministro da Economia perdeu a autocrítica

1. Adotar uma linguagem agressiva e mal educada para se referir a todos, de funcionários públicos a empregadas domésticas

2. Não ter ideias e saídas para a retomada do crescimento e tratar a queda do PIB como um problema alheio

3. Menosprezar a pandemia, como outros ministros de Bolsonaro, e não propor políticas anticíclicas

4. Dar calote nos precatórios e usar o dinheiro para turbinar
a eleição de Bolsonaro