Nesta semana, o mundo da moda voltou os olhos para o meio político em um dos momentos mais esperados dos últimos anos, a posse do novo presidente norte-americano, Joe Biden. Vestir primeiras-damas dos Estados Unidos sempre foi motivo de orgulho e teve lugar de destaque na trajetória de estilistas no mundo todo. Desde Mamie Eisenhower, primeira-dama entre 1953 e 1961, que participava da lista das mulheres mais bem-vestidas do país e simbolizava, através de seu modo de vestir, o ideal de feminilidade na década de 1950, passando pela icônica Jackie Kennedy que, em seu terno Chanel rosa, tornou-se um símbolo de independência com feminilidade, influenciando mulheres do mundo todo com seu “Jackie look”.

Na história recente, a moda nunca viu um recuo tão inesperado quanto o que foi visto durante os quatro anos em que Melania Trump ocupou a Casa Branca. O cenário da moda contemporânea, repleto de referências e códigos sobre inclusão e liberdade de gênero e expressão, e sua relação com o simbolismo do que é vestir uma primeira-dama tiveram uma profunda transformação de significados ao longo dos anos. Melania infringiu vários hábitos desse mercado, tornando-se uma pária entre muitos estilistas americanos que se negavam a vesti-la, entre eles Marc Jacobs e Tom Ford. Destaco uma situação particular que explica um pouco o porquê era tão mal vista pelo universo da moda: em uma de suas aparições em um centro de detenção de crianças imigrantes, Melania usou uma jaqueta com os dizeres: “Eu realmente não me importo. Você se importa?”. A partir desse momento, sua já frágil persona pública fashion tornou-se ainda mais questionada quanto às escolhas de como se vestir usando a moda para dar voz às suas iniciativas.

Na última quarta-feira, no entanto, o mercado de moda se abriu novamente para a personagem que aparenta ser o sonho de estilistas do mundo todo. Uma nova transformação aconteceu e, desta vez, a protagonista aparentemente não será a primeira-dama, mas, sim, a vice-presidente, Kamala Harris, primeira mulher e primeira negra a ocupar tal cargo nos Estados Unidos. Já na posse, Kamala trouxe de volta a longa tradição, que havia sido quebrada por Melania, de vestir especialmente jovens designers americanos: os escolhidos foram os estilistas negros Christopher John Rogers e Sergio Hudson. A cor escolhida para a posse foi um vibrante roxo real. Kamala parece estar disposta a usar a moda como uma declaração forte de expressão de suas ideias e de seu tempo. Ela possui um estilo de se vestir de uma mulher ativa e cosmopolita, uma moda descomplicada e cheia de referências atuais.

A primeira-dama, Jill Biden, seguiu um caminho mais conservador, mas não com menos significado em suas escolhas para o dia da posse. A marca americana escolhida foi a Makarian, da estilista Alexandra O’Neill, que também faz parte da geração de jovens designers americanos. Cheia de propósito ao vestir Jill, a designer enviou um release à imprensa no qual explica a escolha da primeira-dama por vários tons de azul como símbolo de confiança, segurança e estabilidade. Além disso, a escolha do tecido, o tweed, material usado pela rainha da Inglaterra há décadas, chega como uma decisão sóbria, simples e confiável.

As celebridades que participaram dos eventos de posse também traziam mensagens em suas roupas. Lady Gaga, que cantou o hino nacional americano, vestiu uma peça assinada pela marca Schiaparelli. Em seu peito, uma mensagem brilhou em dourado com um broche que representava uma pomba, um pedido de paz. Esse também foi o pedido de Jennifer Lopez, que se apresentou vestida de branco, uma criação da Chanel. Mas quem teve destaque absoluto entre as atrações foi a poeta de 22 anos Amanda Gorman. Vestida de sol envolvida por um casaco Prada amarelo, Amanda declamou seu poema: “Mas ainda que a democracia possa, de tempos em tempos, ser adiada. Ela não pode jamais ser derrotada”. Um grande dia para o mundo, em que a moda falou e a mensagem foi clara: democracia, estabilidade e paz.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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