Como esperado, Jair Bolsonaro tem ampliado os ataques aos poderes constituídos. São tão constantes as agressões dirigidas especialmente aos ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, que, infelizmente, são recebidas como se fossem ações políticas e não graves violações constitucionais, além da quebra do decoro presidencial.

Nada indica que Bolsonaro vá transferir a faixa presidencial ao seu sucessor. Isso porque é líquido e certo a sua derrota eleitoral em outubro. Não será a primeira vez na história da República que isto irá ocorrer. Em 1894, Floriano Peixoto não aguardou a chegada de Prudente de Morais ao Palácio do Itamaraty, então sede do governo. Abandonou o local e foi para sua residência. Quase cem anos depois, João Figueiredo fez a mesma coisa e não esperou José Sarney no Palácio do Planalto, em Brasília. Em ambos os casos, os presidentes eram militares, porém, registre-se, Jair Bolsonaro não está à altura de nenhum dos dois, especialmente do Marechal de Ferro.

Nada indica que o presidente vá transferir a faixa presidencial ao seu sucessor. Isso porque é líquido e certo a sua derrota eleitoral em outubro

Desde a redemocratização (1985), o Brasil não vivia sob o risco diário de um golpe militar. Não parece ser um fantasma, muito pelo contrário. O chefe do Executivo federal insiste em colocar em risco a institucionalidade, e o faz em qualquer circunstância ou local. Pode ser uma inauguração, um evento religioso ou esportivo, um encontro social ou empresarial. Em qualquer lugar, Bolsonaro aproveita a ocasião não só para fazer campanha eleitoral – numa clara provocação ao TSE – como também para atacar as bases do Estado de democrático de Direito.

Ao insuflar os seus extremistas, Bolsonaro pretende criar as condições para justificar a derrota eleitoral. Não é acidental que mira seus ataques no TSE, prioritariamente, no ministro Alexandre de Moraes, que presidirá as eleições de outubro. Espalha diariamente fake news e transformou a gestão econômica em uma espécie de fundo eleitoral próprio, onde pode tudo e não tem de prestar contas a ninguém.

No episódio recente envolvendo o elemento que dirigiu o MEC, Bolsonaro pode ter dado um passo em falso, o maior dos últimos meses, isto porque teria, de acordo com o que foi divulgado, avisado o ex-ministro da operação realizada pela PF, o que permitiria ao acusado destruir provas e coagir eventuais testemunhas. Se novas provas forem apresentadas e que comprovem a ação delituosa de Bolsonaro, teremos uma eleição mais tensa do que seria possível imaginar desde as primeiras manifestações golpistas em 2020.