Perspectiva 2017

Primeiro foi a dengue. Depois vieram a zika e a chikungunya. Transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, as três doenças representam um dos maiores desafios da saúde pública. Especialmente nos próximos meses, o País assistirá à multiplicação de casos de cada uma delas. É como um filme de terror que se vê repetidamente. Apenas ao longo de 2016, foram registrados 1,4 milhão de casos de dengue, 260 mil de chikungunya e 211 mil de zika. As três podem matar e deixar sequelas. Os bebês nascidos de grávidas infectadas pelo vírus da zika e que apresentam microcefalia são a marca mais dramática do flagelo.

Livrar-se do mosquito e suas doenças exige que o Brasil faça sua lição de casa básica. Isso significa, em primeiro lugar, garantir cobertura de saneamento. “É preciso ampliar a rede de água e esgoto”, diz o infectologista Ralcyon Teixeira, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, de São Paulo. Depois, investir o ano todo – e não apenas nos meses de pico, como se tornou costume – em campanhas à população e na prevenção dos focos de proliferação do Aedes. “E trabalhar em escala local, nos bairros, nas vila, com forte mobilização social”, diz o biólogo Carlos Salgueirosa de Andrade, da Universidade Estadual de Campinas.
Na esfera terapêutica, o País deve treinar melhor seus médicos para a identificação das patologias. Ainda hoje há mortes causadas pela incapacidade dos profissionais de saúde de detectarem rapidamente os casos que exigem cuidados intensos. Outra atuação fundamental é o apoio aos laboratórios de pesquisa. É do trabalho dos cientistas que virão os mosquitos soltos no ambiente que ajudam a exterminar a população do inseto. Também é do esforço deles que surgirão as vacinas. “Não é possível pensar em combate eficaz sem tecnologia”, diz o infectologista Antonio Bandeira, da Sociedade Brasileira de Infectologia.

A maioria dos centros funciona em condições difíceis. Em dezembro, um pequeno alento: o BNDES anunciou a liberação de R$ 97 milhões à Fundação Butantan, responsável pelo desenvolvimento da primeira vacina brasileira contra a dengue. O estudo envolve cerca de 17 mil voluntários e 14 centros de estudo. Entre eles, a Universidade de Brasília e a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Nos testes feitos até agora, a vacina mostrou-se segura. O que se quer saber daqui por diante é se tem eficácia, como sugerem dados preliminares.

Outros males a vencer

Sífilis

Doença sexualmente transmissível, pode causar, em fetos, má-formação como a microcefalia ou, após o nascimento, surdez, cegueira e morte. Em 2005, houve 1,8 mil casos de gestantes infectadas. Para 2016, a previsão era de 40 mil

Coqueluche
Provocada por bactéria, é altamente transmissível. Em 2015 foi responsável pela morte de 35 crianças menores de 1 ano no Brasil. A vacina é a principal medida de prevenção

Aids
Depois de se tornar referência mundial no combate à doença, o País vive um retrocesso. Segundo a ONU, entre 2010 e 2015 o número de pacientes subiu de 700 mil para 830 mil.