Está prestes a ser decidida a eleição do novo líder do mundo livre com a escolha do futuro presidente dos EUA. E nunca foi tão difícil para os americanos escolher. De um lado a encalacrada e cheia de mistérios Hillary Clinton – com seus emails comprometedores – e do outro, muito pior, o devaneio tóxico do intragável Donald Trump. Evidentemente que não há termos para considerar Trump uma opção razoável sequer. O bilionário nova-iorquino é um espanto em todos os seus mirabolantes planos e propostas. É o retrato do chauvinismo repulsivo e da soberba sem limites. Trump encarnou desde sempre a pecha de um machista inveterado e deplorável. Seu preconceito contra os latinos extrapola. O contexto absolutamente xenófobo das convicções que carrega atinge de maneira indiscriminada vários povos e choca o mundo. É inaceitável imaginá-lo no comando dos destinos do planeta. E essa chance, aos poucos – para alívio geral –, vai se tornando cada vez mais remota, como ficou claro no último debate ocorrido na semana passada. Trump foi Trump em cada barbaridade que disse. Avisou que “alguns homens maus” serão colocados prá fora, sem qualificar quem seriam eles. Sabe-se que estão incluídos no grupo os mexicanos que atravessarem a fronteira, os “hombres”, na definição pejorativa e irônica do magnata-candidato. Trump cai nas pesquisas por seus próprios deméritos. Disse sem meias palavras (com gravação divulgada aos quatro cantos) que abusava de mulheres, que irá erguer um muro da vergonha para evitar a migração cucaracha, que vai banir e perseguir mulçumanos. Como exatamente imaginar a potência americana mergulhada em um cenário apocalíptico desses? No debate com a oponente Hillary, o empresário de mil negócios chegou a desafiar inclusive a democracia americana, dizendo que não sabe se irá aceitar o resultado das eleições. Trump não tem o menor pudor em mexer com um dos dogmas, um dos pilares da sociedade dos EUA, que é a força de suas instituições. Na cruzada, quase kamikaze, os seus comentários racistas se somam à inabilidade no trato com os demais políticos (mesmo correligionários) e às acusações de sonegação na receita. Ato contínuo a cada transgressão de campanha, Trump foi perdendo apoios. Desembarcaram milhares de republicanos, líderes partidários, colegas de chapa e até ex-presidentes que por fidelidade à agremiação lhe davam voto. A situação chegou a tal ponto que quem doou está pedindo o dinheiro de volta e o seu candidato à vice na chapa já o contradisse em diversas ocasiões publicamente, condenando até suas inconfidências contra as mulheres. Na ONU, representantes apontam que a eleição de Trump será uma ameaça internacional. Em meio a tamanho alvoroço é intrigante perceber que existe ainda um significativo índice de simpatizantes as suas manifestações trogloditas. Quase 40 milhões de americanos admitem votar nele de qualquer jeito. São naturalmente embalados por um sentimento de ultradireita que avança de maneira avassaladora por vários continentes. O conservadorismo e o protecionismo desvairado estão em alta. O Brexit, que rompeu os laços da Inglaterra com a União Europeia, e a onda nacionalista que toma conta de nações como a França.

Alemanha e Espanha, são elos dessa mesma cadeia. A ascensão de Trump, que chegou a reta final das eleições, contra todos os prognósticos, retrata o perigo da volta de movimentos radicais. De toda natureza, de infatigáveis vertentes. A insensatez não pode prevalecer. A primeira-ministra britânica, Thereza May, propôs uma lei obrigando as empresas do país a informar quantos estrangeiros abrigavam em suas folhas de pagamento. A medida repete a legislação nazista dos anos 30, que tentava identificar judeus para depois expulsá-los ou executá-los. Se os EUA entrasse na mesma onda – e com Trump não estaria muito longe disso – nada mais restaria de esperança à humanidade.

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