O decidido adeus de Jean-Luc Godard

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O lendário diretor de cinema francês Jean-Luc Godard morreu aos 91 anos. Um dos principais nomes do movimento Nouvelle Vague – que por aqui levou o nome de Bossa Nova e ficou restrito ao campo musical – morreu em sua casa na terça-feira por suicídio assistido na cidade de Rolle, na Suíça, onde essa prática é legal. A informação de que essa era realmente a causa da morte do diretor foi confirmada pelo consultor jurídico de longa data de Godard, Patrick Jeanneret, ao jornal norte-americano The New York Times.

Jeanneret acrescentou que o cineasta tinha “múltiplas patologias incapacitantes” e “decidiu com muita lucidez, como fez a vida inteira, dizer: agora, basta”. Com fama de ranzinza durante sua vasta carreira, com poucos amigos e respostas cortantes, o diretor fez filmes repletos de sutileza, frases de efeito e amor por seus ricos personagens.

Nascido em Paris em uma família franco-suíça, Godard raramente foi um cineasta considerado comercial, muitas vezes radical, cujo primeiro filme Acossado (À Bout de Souffle) catapultou tanto o próprio diretor quanto o ator francês Jean-Paul Belmondo para a fama instantânea e aclamação internacional.

Se a Nouvelle Vague, um dos movimentos mais importantes do cinema mundial, criado na França no fim dos anos 1950, levou novos paradigmas de estética às produções cinematográficas do mundo inteiro, hoje os filmes produzidos naquela época são apreciados por poucos. Em um mundo de efeitos especiais e super-heróis, obras de arte como “O desprezo”, que traz a belíssima Brigitte Bardot no esplendor de sua juventude, talvez faça com que os jovens da geração TikTok percam a paciência para acompanhar o longa do início ao fim, mas deveriam. Nem que seja para criticar o formato e, assim como fez o diretor, ajudar a criar uma nova maneira de filmar.

O presidente francês, Emmanuel Macron, se pronunciou sobre a morte do cineasta, a quem chamou de gênio e iconoclasta. “Jean Luc-Godard foi o mais iconoclasta dos cineastas da Nouvelle Vague. Ele inventou uma arte decididamente moderna e intensamente livre. Perdemos um tesouro nacional e um gênio”, declarou.

As mortes de Elizabeth II, Mikhail Gorbachev e agora de Godard em um curto período de tempo dão a sensação de que o “breve século XX”, como diria o historiador Eric Hobsbawn, realmente está cada vez mais distante da nossa atual realidade.