O primeiro debate entre os candidatos à Presidência estava prestes a começar.

Como havia sido combinado, apenas candidatos e os jornalistas estavam no estúdio principal.

As equipes de assessores foram colocadas num estúdio ao lado, onde poderiam se agredir mutuamente sem atrapalhar a transmissão do evento principal.

Na chegada, os candidatos se cumprimentaram de forma educada.

Aproveitando o clima amistoso, Aderval Pereira, o moderador, inicia os trabalhos pontualmente às nove horas.

— Muito boa noite, senhores candidatos…

— Por que “senhores”? Estão vendo como as mulheres são esquecidas neste País? – inquiriu Simone Tebet.
— Perdão. Senhores e senhoras. Como todos sabem, estamos aqui para o primeiro debate e conforme as regras quem começa…

Agora é Ciro Gomes quem interrompe.

— Então teremos regras é? Pois foram justamente as regras antirepublicanas que trouxeram o Brasil para essa situação periclitante onde o povo é vassalizado pela elite política!

Felipe d’Avila pede calma.

Lula pergunta para Soraya:

— Esse rapaz é candidato ou jornalista? – Soraya não sabe.

Bolsonaro interrompe.

— Olha, vou dizer uma coisa tá ok? As regras eu passo para vocês depois. Acho mais importante decidir os assuntos que não podem ser perguntados.

Lula toma a frente.

— Então tem assuntos que você não quer falar, é?

Bolsonaro rebate.

— Ué? Quer falar de tudo? Então podemos começar pela Lava-Jato, tá ok?

Antes que Lula pudesse responder, Aderval, percebendo que está perdendo o controle da situação, assume a palavra:

— Gente, por favor, vamos dar uma pausinha de 10 minutos?

— Mas acabamos de começar! – Tebet contesta.

Aderval concorda.

— Então, por favor, vamos seguir com o que foi combinado com as assessorias e realizar o sorteio…

Agora é Soraya quem interrompe.

— Olha, acho que ao invés de um sorteio, quem deveria iniciar o debate é uma mulher, porque nós somos sempre preteridas e um sorteio claramente favorecerá os candidatos homens, que estão em maioria.

A conclusão foi boa, ninguém ganha, ninguém perde. Muito pelo contrário

Ciro discorda e explica que, no Ceará as mulheres têm as mesmas chances que os homens, porque, quando foi governador, instituiu um programa de igualdade de gênero nos sorteios.

Lula completa que, por falar em sorteio, nunca na história desse País tantas mulheres ganharam na loteria federal como na época em que ele foi presidente.

Aderval desiste do sorteio.

— Olha, sendo assim, melhor passar para as perguntas dos jornalistas.

— Desde que não seja pergunta da Vera Magalhães que acho que deve estar apaixonada por mim, pelo tanto que me persegue – afirma Bolsonaro, rindo nervoso.

— Por favor, pessoal… estamos perdendo tempo! – reclama Aderval.

Ciro afirma que o tempo é uma abstração. Felipe ressalta que tempo é dinheiro. Tebet diz que, quando era professora, ensinava que o tempo é relativo. Soraya rebate que o que interessa são os novos tempos. Bolsonaro lembra que tempo bom era na ditadura e Lula diz que tem todo o tempo do mundo para construir um Brasil melhor.

Uma hora e meia se passou e nem uma única pergunta foi feita.

No estúdio ao lado, os assessores estão tensos, sem saber o que está acontecendo.

É que cortaram a luz quando começaram a se estapear.

Janones abre uma frestinha da porta do estúdio principal para ver o que está acontecendo.

— E aí? O que está rolando? – perguntam.

Janones não responde, mas posta no Instagram uma foto dos candidatos numa rodinha, decidindo no palitinho quem fará a primeira pergunta.

— Palitinho! Boa. Nisso papai é fera! – Eduardo Bolsonaro não consegue se conter.