Bolsonaro acha que foi muito esperto ao tratorar o Congresso para eleger seus aliados para as presidências da Câmara e do Senado, mas Arthur Lira e Rodrigo Pacheco nem bem assumiram seus postos e o Centrão já está cobrando a fatura, que lhe imporá um custo muito alto. Terá que ceder mais do que ministérios: será obrigado a rasgar as cartilhas com promessas de campanha de que não barganharia cargos com a velha política. Na negociata, entregará o Ministério do Desenvolvimento Regional para o senador Nelson Trad (foto), que irá para o lugar de Rogério Marinho, a ser deslocado para o Planejamento. E aí o mandatário ampliará o repertório de mentiras, pois quebrará mais uma jura eleitoral: a de não aumentar o número de ministérios. Disse que o ideal era ter 15 para evitar a corrupção e já tem 23.

Cidadania

Outra conta a ser paga por Bolsonaro é a entrega do Ministério da Cidadania ao Republicanos de Marcos Pereira, que abriu mão de disputar a presidência da Câmara com a promessa de mais cargos no governo. Onyx Lorenzoni vai para a Secretaria-Geral da Presidência e deixará o posto para o deputado Márcio Marinho ou para João Roma, ligado a ACM Neto.

Boquinhas

O Centrão deseja ainda ter o ministério da Saúde, além de esperar que Bolsonaro recrie o da Indústria e Comércio. Na Saúde, o general Eduardo Pazuello já sabe que deixará o cargo e que receberá em troca uma promoção para general de quatro estrelas. Mas o grupo fisiológico deseja outras boquinhas no segundo escalão, como o BB e a Casa da Moeda.

“Vou incinerar”

Tiago Queiroz

Quando ainda eram amigas, a deputada Joice Hasselmann emprestou roupas para a colega Carla Zambelli, como um “macacão preto chiquérrimo”, mas as peças nunca foram devolvidas. Agora que as duas brigaram feio, Joice pediu as peças do vestuário de volta publicamente. Constrangida, Carla mandou entregar o material no gabinete de Joice na última sexta-feira, 5. “Vou incinerar tudo”, prometeu Joice.

Retrato falado

“Não vamos ser perversos: o Carnaval em Curitiba será virtual” (Crédito:Divulgação)

O prefeito de Curitiba, Rafael Greca, entende que não faz sentido haver Carnaval este ano em meio à pandemia, que está mais grave do que em 2020. “Não vamos ser perversos e permitir que as pessoas se contaminem. Vão ter que se contentar com a Páscoa: Carnaval em Curitiba será só virtual.” Greca defende que as autoridades se unam em torno das vacinas e critica os que menosprezam os chineses. “O País não pode falar mal da China. O Brasil precisa ter mais equilíbrio.”

Mestre do ilusionismo

Bolsonaro habituou-se a distorcer a realidade de tal maneira que nem ele mais sabe quando mente ou fala a verdade. Era contra a vacina e agora diz que fará de tudo para comprar imunizantes. Defendia a cloroquina e atualmente afirma que jamais propôs o tratamento precoce. Foi contra o auxílio emergencial, mas depois insinuou ser o pai da ideia. Agora, para ficar bem com os caminhoneiros, propõe reduzir o preço dos combustíveis por meio da redução do ICMS. Ocorre que cabe aos Estados, e não à União, legislar sobre esse imposto. Ele deveria, sim, estimular uma reforma tributária que diminua a carga tributária brasileira, que é uma das mais altas do mundo (34% do PIB).

Chapéu alheio

Reduzir o preço dos combustíveis com cortes no ICMS é fazer cortesia com o chapéu alheio. O IPI sobre a indústria automobilística, por exemplo, que é atribuição da União e onera os caminhões em 25%, não faz parte das preocupações do capitão. O IPI torna os nossos veículos os mais caros do mundo.

Toma lá dá cá

Capitão Augusto (PL-SP), líder da bancada da Segurança na Câmara (Crédito:Divulgação)

A vitória de Arthur Lira vai garantir a ampliação de porte e posse de armas?
Agora vai. Vamos lembrar que no primeiro ano, Bolsonaro mandou o projeto para a Câmara, mas ele não andou. Agora temos tudo para conseguir, ainda mais que o presidente conseguiu eleger os presidentes da Câmara e do Senado.

Essa pauta é fundamental para a manutenção do bolsonarismo?
Não é que seja fundamental, mas vai ao encontro do que querem os eleitores dele, que querem a pauta armamentista. Cerca de 70% do eleitorado é a favor.

E na Câmara, onde há resistências?
Temos uma pequena restrição junto à bancada Evangélica, mas temos votos suficientes para aprovar. Pelo menos de 280 a 300 votos a favor do projeto já são certos.

Racha no DEM

A derrota de Baleia Rossi para a presidência da Câmara deixou feridas que levarão um bom tempo para cicatrizar. Rodrigo Maia ainda não digeriu o golpe que levou do ex-prefeito ACM Neto, que jogou o DEM nos braços de Arthur Lira. Magoado, Maia deixará o partido e pensa em se filiar ao PSL ou ao Cidadania. Ficou sem clima no Democratas.

Marcelo Camargo/Agência Brasil

PSDB

Outra alternativa para Maia seria ingressar no PSDB. Pelo menos é o que João Doria está tentando. Afinal, com o DEM aderindo a Bolsonaro, o vice do governador, Rodrigo Garcia, que é do DEM, já resolveu deixar o partido em direção ao ninho tucano. O movimento abre as portas para a turma de Maia, que promete levar vários Democratas com ele.

A briga pela CCJ

Dida Sampaio

A disputa pela presidência da Comissão de Constituição e Justiça está pegando fogo nas duas Casas. Na Câmara, Bia Kicis quer a vaga, mas é rejeitada por ser investigada no STF, e está levando Lafayette Andrada a entrar no jogo. No Senado, Renan Calheiros quer derrotar o desafeto Davi Alcolumbre.

Rápidas

* Mesmo que Lula derrote Sergio Moro no STF, o petista continuará inelegível. Afinal, ele ainda tem a condenação no caso do sítio de Atibaia, cuja sentença não foi dada pelo ex-ministro. Haddad já foi escalado para perder outra vez. Guilherme Boulos quer tomar seu lugar.

* Enquanto não decide ser candidato a presidente, uma coisa o apresentador Luciano Huck já resolveu: desistiu da aproximação que vinha tendo com o DEM. A alternativa voltou a ser o Cidadania, de Roberto Freire.

* Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, trabalha em silêncio. Além de emplacar Nelson Trad na Esplanada dos Ministérios, o PSD deve sacramentar Otto Alencar (BA) na presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

* A deputada Marília Arraes (PE) desafiou a direção do partido e lançou-se candidata à 2ª Secretaria da Câmara contra o também petista João Daniel (SE): venceu por 192 a 168 e agora os petistas querem puni-la.