Jair Bolsonaro é conhecido entre políticos como um sujeito arisco, que desconfia de tudo e todos e costuma se abrir somente ao mais íntimo círculo de amizades e de familiares, a exemplo dos filhos políticos Flávio, Carlos e Eduardo.
Ao ser interrogado no STF sobre a tentativa de golpe nos estertores de seu governo, no entanto, Bolsonaro mostrou uma faceta desconhecida e curiosa: a de quem “desabafa” com interlocutores não tão próximos assim sobre possíveis cenários após uma derrota eleitoral.
Sim, Bolsonaro estava recluso e deprimido depois de perder a eleição para Lula e até mesmo aliados tinham dificuldade para contatá-lo. No entanto, isso não impediu que ele se reunisse com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, além do ministro da Defesa.
Segundo disse o ex-presidente, nada de articulação golpista. Foi tudo para falar aos militares, como companheiros de caserna, em tom de “desabafo”, sobre “dispositivos constitucionais” possíveis após ser derrotado nas urnas e ver naufragar no TSE a ação do PL que apontava supostas fraudes na eleição — foram aventadas possibilidades de decretação de estado de Sítio e estado de Defesa.
Questionado pelo PGR Paulo Gonet sobre a razoabilidade de chamar uma reunião com os comandantes das Forças após os reveses, disse Bolsonaro, candidamente:
“Foi um convite… Por que comandantes militares? Eles têm a mesma formação minha, fizemos a mesma academia, fizemos as mesmas escolas de aperfeiçoamento. E o militar, nas horas boas e ruins, está contigo. Eu não tinha clima para convidar ninguém pra discutir qualquer assunto. Sobrou a eles, até como um desabafo eu para com eles. Eu ouvi o Paulo Sérgio, ouvi o Freire Gomes, ouvi o Garnier e não pude ouvir muito o Baptista Júnior”.
A conclusão, afirmou o ex-presidente, foi que não haveria mais nada a fazer e cada um seguiu sua vida. Inusitado esse jeito de “desabafar”.