Lá se vão mais de três meses desde que Lula foi preso depois de um comício eleitoral disfarçado de missa. Se pensarmos no impeachment responsável por apear o PT do poder, então, quase dois anos. O desgaste é inequívoco. A narrativa de um partido preocupado com os pobres e avesso à corrupção foi arranhada. Contudo, embora ambos os episódios tivessem potencial para ferir de morte a capacidade de uma legenda em influenciar o debate, não se dá exatamente assim com o Partido dos Trabalhadores. Muito pelo contrário, o petismo permanece sendo referência.

A disputa presidencial que se avizinha exemplifica bem essa realidade. Indiretamente, a conduta de partidos e candidatos, se esses forem adversários do PT ou, em última análise, da esquerda, vem sendo pautada pelo juízo moral de quem já não reúne condições para apresentá-lo.

Pois sim, ao longo dos anos, enquanto refinou toda sorte de conchavos e maracutaias, o partido liderado por Lula contou com o aceite obsequioso de grande parte da classe artística, dos chamados intelectuais e de cientistas políticos simpáticos à causa. E não apenas houve silêncio, mas endosso e até a defesa ferrenha de um mecanismo desenhado para viabilizar o enriquecimento pessoal e a perpetuação no poder.

Agora, entretanto, tudo mudou.

A Geraldo Alckmin, por exemplo, não é permitido fazer composições políticas para ampliar a sua capilaridade eleitoral e aumentar o tempo da propaganda na televisão. Pouco importa se tanto Luiz Inácio quanto Dilma Rousseff usaram da mesma estratégia. Acertos que incluam a partilha de ministérios entre aliados? Um escândalo. E só sendo muito desavergonhado para tergiversar sobre um tema espinhoso às vésperas do pleito, como no caso da contribuição sindical.

Cinismos à parte, talvez não exista maior prova de tal influência nessa eleição do que a própria candidatura de Jair Bolsonaro. A construção do seu fiel eleitorado se deu pela reprodução de gatilhos comuns ao petismo: dividir para conquistar, a manipulação do rancor, a fabricação de um líder e a intransigência como premissa. Ponto esse, aliás, bem sustentado por Janaína Paschoal durante a última convenção do PSL.

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É natural que uma hegemonia política de quase duas décadas deixe sinais. É de se lamentar, porém, que continue dando as cartas. Pior mesmo, só a constatação de que nem o próximo pleito será capaz de remediar esse cenário.


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