ESTRELAS A partir do alto, Jacqueline Kennedy, Lauren Bacall e Grace Kelly: ele levou sua aristocracia para Hollywood (Crédito:Divulgação)

Ele nasceu em uma família aristocrática em Beauvais, no norte da França, e antes de completar trinta anos já havia revolucionado a alta costura. Hubert James Marcel Taffin de Givenchy morreu no sábado 10, aos 91 anos, enquanto dormia. Para a grife que ele criou em Paris, em 1952, Givenchy deve ser lembrado como “um cavalheiro que simbolizou o chique e a elegância parisienses por mais de meio século”. Para a historiadora da moda Valerie Steele, que dirige o museu do Fashion Institute of Technology, em Nova York, ele foi “a quintessência da alta-costura francesa do pós-Guerra”. Para quem vê qualquer uma das inconfundíveis peças que ele desenhou, o estilista que criou o conceito de “pretinho básico” é sinônimo de elegância com simplicidade – algo bem mais sofisticado do que essas palavras hoje tão gastas podem deixar transparecer. Como ele mesmo afirmava: “O vestidinho preto é a coisa mais difícil de conceber”. Talvez por isso mesmo ninguém tivesse pensando em nada parecido antes dele.

Foi precocemente, aos 17 anos, que Givenchy se mudou da cidade natal para Paris, perseguindo o sonho de se tornar costureiro. Aos 25, abriria sua própria maison, vendida em 1988 para o conglomerado de luxo LVMH (Louis Vuitton Moët Hennessy). Ele permaneceu como diretor criativo da grife até 1995. Mas foi quarenta anos antes de abandonar as tesouras que Givenchy abalou as passarelas ao inovar no corte dos vestidos femininos. “Com elegância e precisão, Givenchy libera a mulher de seus corpetes do pós-guerra propondo com desenvoltura uma fluidez nas linhas sóbrias que trazem conforto à moda”, diz Márcia de Carvalho, estilista brasileira radicada em Paris. Com o “tubinho” que deixava de marcar a cintura da mulher, o estilista criou um novo jeito de vestir, que ficaria conhecido no mundo da moda como “sack silhouette” (literalmente, silhueta do saco), no qual o vestido cai solto sobre o corpo, sem definir as formas de quem o veste.

Para Audrey

O ousado estilo foi imortalizado no cinema depois que a atriz Audrey Hepburn, uma de suas principais musas, usou a peça para compor o visual da personagem Holly Golightly, que ela interpretou no filme ”Bonequinha de luxo” (1961). O vestido preto em tubo desenhado por Givenchy que aparece na cena de abertura, quando Holly toma seu café da manhã olhando as vitrines da Tiffany’s, é considerado uma obra-prima – e aparece até hoje no topo de todas as listas dos mais influentes do cinema. A amizade de décadas entre a atriz e o estilista rendeu outros frutos: ela foi o rosto usado nas propagandas do primeiro perfume criado por ele, L’interdit. Os dois viviam uma “espécie de casamento”, segundo as palavras dele. Em 2014, Givenchy publicou “To Audrey with love”, livro com os desenhos dos vestidos feitos para ela.

“O ideal, se possível, é ter de nascença uma certa elegância” Hubert James Marcel Taffin de Givenchy (1927-2018)

Audrey pode ter sido a favorita, mas não foi a única a imortalizar o estilo Givenchy. Lauren Bacall, Grace Kelly e Jacqueline Kennedy Onassis também adoravam vestir o que ele criava com uma “allure” ao mesmo tempo aristocrática e hollywoodiana. Sua grife vestiu Madonna, Beyoncé e Kim Kardashian, entre tantas outras estrelas do cinema, da música e das redes sociais. Ainda que se considerasse um eterno aprendiz, foi um mestre. Na primeira fila de seu último desfile, em 1995, estavam os colegas de profissão Yves Saint-Laurent, Paco Rabanne, Christian Lacroix e Valentino. Todos eles influenciados de alguma forma pelo que Givenchy definiu como elegância. Para ele, o segredo era acrescentar a tudo um pouco de simplicidade.

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