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Entre os anos de 1303 e 1305, os Scrovegni, influente família da região de Pádua, no nordeste da Itália, encomendou ao pintor Giotto di Bondone (1267-1337) uma obra que redimisse o clã da prática que, na época, era considerada um pecado: emprestar dinheiro a juros. Giotto se viu obrigado a criar algo totalmente original. Foi assim que surgiram os afrescos da Capela degli Scrovegni, trabalho que imortalizou o nome do pintor. Sua técnica inovadora marcou o ponto de inflexão entre a arte medieval e o que, mais tarde, seria conhecido como Renascimento, estilo em que a composição da pintura passava a apresentar profundidade. A ousadia foi reconhecida na 44ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, concluído sábado, 1, em Fuzhou, na China. Tanto a Capela degli Scrovegni como o ciclo de pintura conhecido como Padova Urbs, passam a fazer parte do conjunto de obras que compõem o patrimônio da humanidade.

Quando Giotto viveu, o mundo ocidental começava a dar menos relevância aos elementos relacionados à fé e passava a valorizar o ser humano e a natureza. “Giotto é o primeiro nome ocidental da arte moderna”, afirma Daniele Saucedo, professora de História da Arte da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná. Ela explica que o pintor não abandonou de vez a temática cristã e que os painéis da Capela degli Scrovegni unem o mundo sagrado e o real por meio de três eixos: o mistério do nascimento de Jesus, a Paixão de Cristo, e a homenagem à família Scrovegni — o patriarca, Enrico, aparece na pintura como se estivesse pedindo perdão.

“Ele é o primeiro nome ocidental da arte moderna”, Daniele Saucedo, professora de História da Arte (Crédito:Daniele Saucedo)

Giotto inovou ao incluir movimento em suas cenas. Suas pinceladas contrariavam a técnica que vigorava na época. Os corpos passaram a ser executados com volume e com o estilo de contraste entre o claro e o escuro. A imagem de Nossa Senhora, na Capela degli Scrovegni, traz dobras no pescoço, como uma pessoa comum. “Antes a pintura era chapada, focada em cenas bíblicas”, diz a especialista. Com Giotto, as imagens passaram a ser vistas sob o efeito da perspectiva. Com o reconhecimento pela Unesco, faz-se justiça a um dos maiores nomes da arte — e também a um local, Pádua, uma tradicional referência para a disseminação a cultura. Definitivamente, Giotto abriu caminhos para o renascimento da arte.