Os ricos podem viajar pelo mundo, os muito ricos vão ao espaço. Essa é a nova fronteira do turismo que começará, de fato, a ser aberta quando o bilionário americano Jeff Bezos, acompanhado pelo irmão Mark, realizar o sonho de infância e subir a mais de 100 quilômetros acima da Terra. Bezos anunciou pelo Instagram a data da primeira excursão suborbital privada da história: 20 de julho, duas semanas depois de seu afastamento da presidência da Amazon, programado em fevereiro. Ele estará a bordo de uma cápsula acoplada a um foguete New Shepard, de sua empresa Blue Origin, num primeiro voo tripulado. O objetivo da missão é superar a chamada Linha de Karman, divisa entre a atmosfera e o espaço e marco simbólico da conquista dos céus. A nave com seis lugares levará pelo menos mais um passageiro. A vaga é disputada num leilão que, segundo a Blue Origin, teve seis mil participantes de 143 países e lance máximo de US$ 3,2 milhões (R$ 16 milhões), até o dia 7.

CORRIDA Equipe da Blue Origin que ajudou Bezos a tomar a frente da concorrência (Crédito:Divulgação)

Viagens seguras

Com sua iniciativa, o multibilionário de 57 anos quer mostrar, arriscando a própria pele, que sua prioridade de negócios mudou e que viagens ao espaço podem ser seguras e divertidas. Além disso, ele dá um sinal de que não é necessária uma coragem descomunal para fazê-las. Se der tudo certo, Bezos vai inaugurar a era dos astronautas diletantes e ganhar mais dinheiro do que com a Amazon. De cara ele dará um salto enorme à frente da concorrência visionária, representada pela SpaceX, de ElonMusk, e pela Virgin Galactic, de Richard Branson, pondo a si próprio em perigo e dando uma prova de que tudo é mais simples do que parece. Embora esteja à frente de Bezos na relação com a Nasa e participe ativamente do programa da agência para voltar à Lua, Musk ainda não conseguiu fazer uma excursão suborbital com clientes privados. Branson divulga dezenas de vendas de pacotes, mas só pretende realizar a primeira viagem tripulada da Virgin, nos mesmos moldes do concorrente, posteriormente.

Numa experiência única, os tripulantes do New Shepard, uma homenagem ao astronauta pioneiro Alan Shepard, passarão cerca de quatro minutos no espaço. Entre os atrativos do voo está a exposição à falta de gravidade e a visão da curvatura da Terra. A nave tem seis janelas que são três vezes mais altas do que as de um Boeing 747, o que garante uma excelente visibilidade. Depois de atingir o ponto máximo, o foguete entrará em rota descendente na atmosfera e aterrissará amortecido por três grandes paraquedas. Todo o percurso até o alto durará cerca de 10 minutos. Bezos tem certeza que sairá renovado da viagem. “Isso muda sua relação com o planeta, com a humanidade”, declarou pelas redes sociais. “É uma Terra só. Quero fazer esse voo porque é a coisa que eu quis fazer a minha vida inteira.” Nos seus planos de futuro, o magnata acredita que o planeta deve ser transformado num santuário e atividades ameaçadoras e com impacto ambiental precisarão ser transferidas para fora da Terra.

PAISAGEM Viagem ao espaço levará dez minutos: visão da curvatura da Terra (Crédito:Divulgação)

Preço exorbitante

O sucesso de Bezos deverá inaugurar uma onda de turismo de aventura mais radical do que a febre do Everest. O leilão para definir um terceiro participante da missão termina dia 12. E, a partir de agora, quem quiser se preparar para essa jornada deverá abrir os bolsos. Os primeiros movimentos das empresas do setor indicam que o preço das viagens suborbitais girarão em torno de US$ 200 mil, o que para legiões de milionários e bilionários pelo mundo não é nada, mas para a grande maioria dos seres humanos é algo absolutamente inalcançável. Para estar ao seu lado no caminho até o espaço, Bezos escolheu o irmão Mark, publicitário e hoje vice-presidente de uma entidade filantrópica de Nova York. “Vou embarcar na maior aventura com meu melhor amigo”, disse pelo Instagram. “Desde os cinco anos sonho em viajar para o espaço e no dia 20 de julho farei essa viagem com meu irmão”. Bezos trata sua façanha com naturalidade, afinal ele confia plenamente nas suas máquinas. Certamente muitos super-ricos ficarão mais tranquilos para repetir a experiência espacial.