Lula queria que Fernando Haddad fosse ministro da Educação, mas ele não topou porque não queria repetir o posto que teve no primeiro governo do PT. O que ele quer mesmo é ser ministro da Fazenda, mas para esse cargo há dezenas de candidatos, inclusive ele. Agora, não mais que de repente, surge a perspectiva de ele ser chanceler, sobretudo depois que o presidente eleito resolveu leválo a tiracolo para a reunião da COP27, no Egito. Mas, para ser entronizado no Ministério das Relações Exteriores, vai precisar do aval do ex-ministro Celso Amorim, um dos cotados, e de quem Lula não abre mão para a formulação de sua política externa. Tanto assim que na quinta-feira, 10, Amorim ficou conversando por horas com o novo presidente em sua casa no Alto de Pinheiros, em SP.

Exterior

Amorim circula muito bem no meio diplomático e só não será ministro se o presidente eleito precisar da vaga para acomodar Haddad na Esplanada dos Ministérios. Nesse caso, o ex-chefe do Itamaraty ficará bem posicionado como assessor especial da Presidência, com sala no Palácio do Planalto. A ideia de Lula é uma divisão dos poderes entre ambos.

Fazenda

Haddad, contudo, ainda não deixou de sonhar com a Fazenda, muito embora os operadores do mercado financeiro rechacem essa possibilidade. O ex-prefeito de SP realmente é inexperiente na área, mas pensa em repetir o que Palocci fez no primeiro governo petista. Por ora, Pérsio Arida e os ex-governadores Wellington Dias e Rui Costa são favoritos.

O dilema de França

GABRIEL REIS

Márcio França acabará ficando com o Ministério da Ciência e Tecnologia. O ex-governador não está desgostoso com isso, embora preferisse o Ministério das Cidades. Entende, porém, que Lula precisa ampliar o Orçamento de 2023 ou ele acabará preso a um órgão esvaziado. Seus aliados explicam que, por ora, a peça orçamentária bloqueia R$ 4,1 bilhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Retrato falado

“Se não atender rápido à população, Lula vai por água abaixo” (Crédito: Luis Ushirobira)

Guido Mantega disse à “Folha” que Lula precisa dar prioridade aos mais pobres para não se enfraquecer. “Ele não quer começar o governo de mãos amarradas”, explicou Mantega, da equipe de transição, mas que faz questão de afirmar que não será ministro. “Não existe antagonismo entre o controle fiscal e investimento social”, afirma o ex-ministro da Fazenda, para quem a licença de gastar R$ 200 bilhões fora do teto pode fazer o País crescer além de 0,5% do PIB previsto para 2023.

Desequilíbrio fiscal

O novo presidente não dá bola para a “tal responsabilidade fiscal”, dizendo que o compromisso dele é com o povo faminto – chegou a chorar ao lembrar-se das milhares de crianças que passam fome. Não podemos admitir que isso aconteça no País que é o celeiro do mundo. Aliados do presidente dizem que nos governos anteriores o petista manteve o equilíbrio das contas públicas e não vêem o dilema entre gastos sociais e déficit fiscal. Esquecem-se, porém, que de 2003 a 2010, o Brasil foi favorecido pelos elevados preços das commodities agrícolas e a economia cresceu acima de 4% ao ano. Agora, o quadro é de recessão mundial e Lula herdou um buraco de R$ 400 bilhões.

Teto de gastos

Não dá para entender por que Lula insiste em não anunciar que vai implantar algum tipo de âncora para o teto dos gastos públicos. É esse o principal ponto de estresse entre a futura gestão e os agentes do mercado financeiro e foi essa, inclusive, a razão da equivocada fritura de Meirelles para a Fazenda.

Embate à vista

Nacho Doce

Correligionários de Alckmin antevêem um embate entre ele e o escolhido de Lula para o Meio Ambiente, seja Marina Silva, Izabella Teixeira ou Randolfe Rodrigues. O iminente imbróglio envolve o Conselho da Amazônia, que coordena esforços para a preservação da floresta. O PSB reivindica a permanência do órgão sob o guarda-chuva da Vice-Presidência.

Amazônia em foco

O novo ministro, contudo, poderá querer ter
a primazia sobre o projeto Amazônia 4.0, que trata do desenvolvimento sustentável das matas, arrebatando, assim, parte do prestígio que Alckmin poderia vir a ter com os projetos de recuperação do meio ambiente. Pessebistas crêem que o próximo ministro vai defender que o conselho migre para suas mãos.

Velhos laços não morrem

Keiny Andrade

Bruno Dantas chegou ao TCU em 2014, com o caminho pavimentado à época pelo MDB. Na ocasião, Renan Calheiros costurou a indicação junto a Dilma Rousseff após a desistência de Gim Argello. Os laços não enfraqueceram com o tempo. O cacique emedebista, aliás, tenta ajudar o aliado a alçar voos ainda mais altos — nos bastidores, faz lobby pela indicação de Dantas ao STF.

Toma lá dá cá

Pedro Vilela, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara (Crédito:Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados)

Qual o impacto da ausência de Bolsonaro na cúpula do G20?
A presença do presidente na cúpula seria altamente simbólica. Perdemos a oportunidade de defender o interesse nacional entre as principais economias do mundo.

O que a viagem de Lula à COP27 sinaliza ao mundo?
É natural que a comunidade internacional busque o diálogo, desde já, com o presidente brasileiro. Prova disso é que o Fundo Amazônia será retomado em janeiro.

Além do Meio Ambiente, quais os principais desafios do Brasil perante a comunidade internacional?
É preciso que todos entendam o peso do Brasil nas cadeias globais de abastecimento, nas questões ambientais e no desenvolvimento sócio-econômico. Estamos entre as dez maiores economias.

Rápidas

* Lula nem assumiu e já enfrenta a primeira crise diplomática. Paulo Guedes indicou Ilan Goldfajn para o comando do BID. Quando tudo estava quase certo, o petista autorizou Mantega a dizer que vai indicar outro nome, que pode vir a ser André Lara Resende. Ilan é ótimo.

* Alexandre Padilha bem que tentou cavar espaço no Ministério da Fazenda, mas seu destino final deve ser mesmo o da Saúde, cargo que já ocupou no governo Dilma. O problema é que o senador Humberto Costa também quer.

* Além da pressão para anunciar logo o nome da Fazenda, agora o presidente eleito está sendo pressionado a escolher rápido o novo ministro da Defesa por causa da crise dos militares e as urnas. Jobim e Lewandowski estão no páreo.

* Eleita para a Câmara, Sonia Guajajara foi indicada por lideranças indígenas para assumir o Ministério dos Povos Originários a ser criado por Lula. Tem o apoio de Janja, mulher do novo presidente. Todos estiveram na COP27.