O coração de D.Pedro I, que vai ser emprestado pelo governo português ao Brasil para a comemoração de 200 anos da independência chegará a Brasília, segunda-feira, 22. “O coração do nosso D. Pedro será recebido com honras de chefe de Estado, com salvas de canhão e escoltado pelos Dragões da Independência, ficará fora cerca de 20 dias, mas vai regressar com mais reconhecimento e admiração por parte do povo brasileiro”, afirmou Rui Moreira, prefeito da cidade do Porto, onde o coração fica guardado. Será a primeira vez, em 187 anos, que a relíquia deixará a cidade. Ela ficará exposta por 20 dias no Brasil, com visitação pública, no Palácio do Itamaraty, até 8 de setembro.

O translado da relíquia será realizado neste fim de semana pela Força Aérea Brasileira (FAB). Ao chegar a Brasília irá para o Palácio do Planalto, e posteriormente o órgão de D.Pedro I vai para o Palácio do Itamaraty, onde ficará em exibição até a comemoração do bicentenário, no dia 7 de setembro. O coração regressará para Portugal no dia seguinte.

As negociações para o empréstimo do coração duraram em torno de quatro meses e envolveram o governo português, representantes da Irmandade da Lapa (entidade religiosa que guarda o coração) e a Câmara do Porto.
As entidades portuguesas só autorizaram a viagem depois que uma equipe de especialistas avaliou as condições do coração e garantiu que não haveria riscos. Os peritos exigiram que o transporte fosse realizado em um ambiente pressurizado. Rui Moreira irá viajar juntamente do órgão, porém os custos e medidas de segurança ficaram a cargo do governo brasileiro.

Contudo, o translado da relíquia gerou críticas de intelectuais de ambos os países. Para a arqueóloga e historiadora brasileira, Valdirene Ambiel, a viagem é um desrespeito á memória de D.Pedro I e pode ser utilizada como propaganda política.

“Em 1972, foi quando o corpo de D. Pedro foi transladado para o Brasil, lamentavelmente foi usado de maneira política, durante o regime militar”, afirma Ambiel. ”O bicentenário é um evento muito importante, mas acima de tudo, nós brasileiros temos que nos preocupar com a reflexão sobre a nossa independência”, diz a historiadora. “Não que a figura de D.Pedro I tenha que ser esquecida, jamais, nem a importância dele para esse país”.
Para a comemoração dos 150 anos de independência, o presidente militar à época, o general Emílio Garrastazu Médici, coordenou o translado do corpo de D. Pedro I para o mausoléu do monumento da Independência, em São Paulo, à margem do Rio Ipiranga.

A viagem da relíquia também deu uma oportunidade para que a população portuguesa da cidade do Porto veja o coração de perto. Normalmente a relíquia é inacessível ao público. Fica armazenada em um vaso de vidro com formol, dentro de uma urna trancada por cinco chaves, dentro de um cofre, na Igreja da Lapa. Para ver o órgão é necessário retirar uma placa de cobre com a primeira chave, depois duas chaves abrem uma grade, a quarta chave dá acesso à urna e uma quinta e última chave permite que se abra uma caixa de madeira onde há um vaso de prato e um recipiente de vidro, no qual o coração de D. Pedro I está conservado.