Trinta anos depois da queda do Muro de Berlim, o contraste entre o leste e o oeste da Alemanha vai se apagando pouco a pouco.

– Economia: o leste ainda distante

“A situação no leste é muito melhor do que sua reputação”, declarou satisfeito no final de setembro o governo de Angela Merkel, quando apresentou um relatório anual sobre a unidade alemã.

Mesmo assim, o PIB per capita das cinco regiões da antiga RDA só representava 74,7% do oeste da Alemanha em 2018. Desde 2010, essa diferença diminuiu 3,1 pontos, graças a pequenas e médias empresas e ao dinamismo de Berlim, Leipzig e Dresde. A ex-RDA começou longe em 1990, com um setor industrial falido, herdeiro do coletivismo comunista.

A melhora não compensa a ausência de grandes empresas como Volkswagen, Siemens e Bayer, cujas sedes estão no lado oeste, onde empregam milhares de pessoas.

Nenhuma empresa do Dax, índice dos principais valores da Bolsa de Frankfurt, tem sede no leste.

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Os “Länder” (estado federado) da antiga RDA continuam trabalhando a reboque do oeste em termos de salário médio: em 2018, um funcionário do oeste ganhava em média 3.339 euros brutos por mês, enquanto no leste eram 2.600 euros, segundo a agência federal para o emprego.

No leste a produtividade também é menor, cerca de 82% da registrada no oeste.

– Emprego: uma brecha que vai se preenchendo pouco a pouco

Acostumados ao pleno emprego estatal da ex-RDA, os alemães do leste viveram nos anos 1990 e 2000 o “choque” do desemprego, com taxas que superavam 30% em algumas cidades.

Mas após ter alcançado o topo em 2005, o desemprego caiu desde então, em parte graças à diminuição demográfica e ao aumento do emprego de meio período (30,5% no leste contra 27,6% no oeste).

Em agosto de 2019, o nível de desemprego era de 4,8% no oeste e 6,4% no leste. As cidades com taxa de desemprego mais alta estão na antiga RDA: Gelsenkirchen (13,8% em abril), Bremerhaven e Duisburg (12%).

A ex-RDA se caracteriza, além disso, por uma taxa de emprego feminino um pouco maior que no oeste (73,9% contra 71,6%).

– Diminuição demográfica preocupante

Em uma Alemanha globalmente envelhecida, em que a idade média passou de 40 anos em 1990 a 45 em 2018, a situação demográfica da antiga RDA continua sendo problemática.

Desde 1991, a população do leste passou de 14,6 para 12,6 milhões de habitantes, enquanto no oeste (incluindo Berlim), subiu de 65,3 para 69,6 milhões.

O dinamismo de cidades como Dresde, Jena e Leipzig não consegue superar o êxodo e o envelhecimento que castigam esssa regiões. Os centros das cidades mostram a tristeza de lojas e edifícios à venda.


Em algumas localidades, como Suhl (Turíngia) e Frankfurt an der Oder (Brandemburgo), a população caiu mais de 30% em três décadas, o que teve repercussões no serviço público e na infraestrutura.

A emigração em massa para o oeste ou para o exterior de jovens adultos no início dos anos 1990 fez com que caísse a taxa de natalidade no leste, o que terá consequências durante várias décadas, segundo os especialistas.

A acolhida de milhares de refugiados na Alemanha desde 2015 não bastou para inverter essa tendência, principalemente considerando que a maioria deles escolheu ficar no oeste.

– Reduto da extrema direita no leste

Criado em 2013, o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) conseguiu seus melhores resultados no leste, onde já tinha entre 20 e 30% dos votos, enquanto no oste consegue, e média, cerca de 10%.

Em junho, uma frente comum de todos os partidos fez falta para impedir que o AfD conquistasse em Görltiz sua primeira cidade importante.

O leste, onde os partidos tradicionais e a antigua esquerda comunista estão em queda, também é um celeiro para o movimento islamofóbico Pegida, que reuniu nos últimos anos milhares de manifestantes em Dresde.

Essa situação está relacionada, segundo os cientistas políticos, com o fato de muitos alemães do leste continuarem nutrindo o sentimento de serem “cidadãos de segunda classe”.

Assim, 74% considera, segundo uma pesquisa recente, que continuam existindo “diferenças muito grandes” entre as duas partes do país.


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