Seis meses sem ver a filha. Essa foi a penitência de uma mãe por levar uma criança de 11 anos a uma cerimônia de iniciação no candomblé. De acordo com o balanço do disque 100, do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, denúncias de intolerância religiosa aumentaram 56% no Brasil – em sua maioria, 61%, de religiões de matriz. Por mais que a música popular brasileira tenha cantado ao longo dos anos sobre orixás e entidades – Maria Bethânia e João Gilberto não me deixam mentir – o Brasil ainda silencia o axé.

Em um País laico, onde, contraditoriamente, há um Jesus Cristo acima de juízes e juízas, deputados e deputadas, senadores e presidentes, os terreiros de umbanda e de candomblé são alvos de violência no nome da honra e da família. Pais e mães de santo têm suas vidas arruinadas porque uma parte do povo brasileiro não aceita suas próprias raízes. A umbanda, por exemplo, é uma religião criada no Brasil, mas parece que a população esquece a sua própria história. E por isso nega Ogum, Oxalá, Iemanjá, Oxum, entre outros.

O Brasil entrega o seu voto a políticos que se elegem usando erroneamente o nome de Deus. Políticos que pregam a violência contra o diferente, fazendo mal uso da religião para defender o indefensável. Esse Brasil é aquele que aplaude a bancada da bala, da Bíblia e do boi, mas arruína os que vestem branco e saúdam o seu axé. Esse é o País laico que diz sim para uma religião e não para outras. Que silencia o axé e só fala de Iemanjá no primeiro dia do ano. O que é, mais uma vez, contraditório.