O considerável mas desconhecido balanço humano da guerra na Ucrânia

Centenas de nomes e de fotos junto a bandeiras ucranianas formam um memorial improvisado em uma praça central de Kiev para lembrar os soldados mortos. Porém, quase três anos após o início da invasão russa, não há um balanço oficial de vítimas.

Uma semana antes de que completar três anos desde que começou o conflito, crescem as tensões diplomáticas após a conversa telefônica do presidente americano, Donald Trump, com seu homólogo russo, Vladimir Putin.

A guerra pode ter provocado centenas de milhares ou mesmo um milhão de mortos e feridos, segundo declarações de funcionários ucranianos e russos e estimativas de países ocidentais.

– Segredo militar –

Rússia e Ucrânia não costumam divulgar números sobre suas perdas militares e a AFP não cita as que cada lado assegura ter infligido a seu rival.

Em uma inusual estimativa pública comunicada à rede americana NBC, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky afirmou em meados de fevereiro que mais de 46.000 de seus soldados teriam morrido e que cerca de 380.000 teriam sido feridos.

O correspondente de guerra ucraniano Yuri Butosov, um jornalista independente e respeitado, afirmou em dezembro de 2024 que suas fontes no Exército teriam mencionado 70.000 mortos e 35.000 desaparecidos.

Vários meios ocidentais, citando fontes ocidentais, reportaram balanços diversos, entre 50.000 e 100.000 mortos em combate.

A Rússia não falou nada sobre as perdas desde o segundo semestre de 2022, quando indicou que ao menos 6.000 militares teriam morrido.

Vários projetos independentes, baseados em fontes abertas, como a publicação de obituários de soldados mortos, relatam números muito altos.

O portal independente Mediazona e o serviço russo da BBC afirmam ter identificado 91.000 soldados russos mortos até o momento.

No final de 2024, o então secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, afirmou que 700.000 militares russos haviam sido mortos ou feridos. Esses seriam somados aos soldados norte-coreanos mortos ou feridos em combate: entre 1.100, segundo Seul, e 3.000, segundo Kiev.

– O balanço civil –

O número de civis ucranianos mortos continua sendo “aproximado”, disse um funcionário de alto escalão da Presidência, sob anonimato.

Volodimir Zelensky disse no início de fevereiro que Vladimir Putin havia “matado dezenas de milhares de civis ucranianos” com sua invasão. Mas os números atuais estão incompletos devido à falta de acesso aos territórios ocupados pela Rússia, onde teria ocorrido a maioria das mortes.

A missão da ONU de monitoramento dos direitos humanos na Ucrânia (HRMMU) identificou 12.500 civis mortos e cerca de 28.400 feridos. Mas o número real de vítimas é “provavelmente muito, muito, muito maior”, alertou Danielle Bell, chefe da missão.

Assim, o cerco a Mariupol, no início da invasão, teria causado dezenas de milhares de mortes. Autoridades ucranianas citaram números que variam de 20.000 a 80.000 mortos na cidade, que atualmente está sob controle russo.

Para o funcionário da Presidência ucraniana, o número de mortos não ficará “claro” até que a Ucrânia tenha acesso aos territórios ocupados e às “valas comuns” que Kiev alega estarem lá.

Quanto à Rússia, as autoridades não publicam nenhuma contagem detalhada de mortes de civis em seu território, mas relatam as mortes caso a caso.

Quase 350 civis morreram nas regiões fronteiriças de Kursk, cenário de uma ofensiva ucraniana desde agosto passado, e Belgorod, segundo números de autoridades regionais e da agência de notícias estatal Ria Novosti publicados no final de 2024.

– Dezenas de milhares de desaparecidos –

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) disse que trabalha em cerca de 50.000 arquivos de pessoas desaparecidas, tanto civis quanto combatentes, de ambos os lados. E isso provavelmente é apenas “a ponta do iceberg”, disse seu porta-voz, Pat Griffiths.

As autoridades ucranianas também criaram um registro de pessoas desaparecidas, que em fevereiro de 2025 somavam cerca de 63.000. Não há números divulgados na Rússia sobre pessoas desaparecidas.

No entanto, a vice-ministra da Defesa russa, Anna Tsiviliova, disse em novembro que as autoridades receberam cerca de 48.000 solicitações de testes de DNA de familiares de soldados que lutavam na Ucrânia e que estavam procurando parentes desaparecidos.

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