Levante a capivara de crimes, desvios, esquemas, acusações e condenações do mais novo dileto parceiro de jornada política do cegamente reverenciado capitão Messias “mito” Bolsonaro. É de cair o queixo e esbugalhar os olhos de qualquer um. Estamos falando — claro! — de Valdemar da Costa Neto, nome icônico das trevas da malandragem, antológico ficha-suja, o mensaleiro-mor, aliado guloso nas tramoias do malfadado demiurgo de Garanhuns, Luiz Inácio Lula da Silva. Isso mesmo! De uma ponta a outra, no arco de extremismos ideológicos, foi quase um pulo para Valdemar. Sem saudosismos, receios ou peso na consciência. Apenas, dada à conjuntura, aos agrados e gracejos de um certo capitão, mudou diametralmente de lado. Encantou-se. Apaixonou, digamos assim, para ficar na linguagem tão ao gosto e peculiar do inquilino acidental do Planalto. Fazer o quê? Vida que segue. Virou casaca, como no dito popular, espertamente, para aboletar-se no poleiro de quem paga mais ou pode lhe render maiores dividendos. Simples assim. Quem há de lhe jogar pedras por isso? Só quem não o conhece. O Valdemar do qual tratamos aqui é também ex-presidiário, note só! Mofou um bom tempo na cadeia para cumprir parte da pena de sete anos que lhe foi dada por um naco dos crimes dos quais lhe acusam. Os demais seguem na morosa análise processual ou descansam nos escaninhos da Justiça. Valdemar foi assim, como é típico dos colarinhos brancos com interligações influentes na alta-roda brasiliense, logo beneficiado com o regime semiaberto, em troca de trabalhos nada forçados na padaria de um amigo. De novo: de padeiro a parceiro preferencial do presidente, sem escalas. Lá atrás, teve apenas de ostentar, com a discrição devida, mas não sem a galhardia de quem parece acreditar que carrega um troféu por bom comportamento, a tão em voga tornozeleira eletrônica. Saiu barato! Cumprido o prazo inicial, terminou (como se diria) no Irajá, beneficiado por um indulto mal-ajambrado. Valdemar é, indiscutivelmente, um prodígio da política rasteira. Com os trunfos que nunca perdeu, regressa, triunfalmente, metendo o pé direito no tapete vermelho do Planalto que o leva ao pináculo do poder central dessa República das bananas. Digno de nota! Seria ele o Ben-Hur do Parlamento, numa reentrada épica, montado na sua biga de cavalos para vingar injustiças pretéritas? Com um plantel de realizações ilícitas digno de mafiosos de alto calibre, Valdemar firmou o enlace matrimonial, dando as mãos a um entusiasmado mandatário, que fez dele a “noiva escolhida” para uma jornada de campanhas eleitorais e acertos visando a prosperidade de ambos. Serão felizes para sempre? Vai saber. Foi o dito capitão Bolsonaro quem primeiro falou em escolher “a namorada mais bonita” para o casamento. Quem quiser pode criticar, a boca pequena, o gosto duvidoso nesse sentido, mas, como manda a boa etiqueta, é melhor ninguém meter a colher no relacionamento dos dois. Lancemos o foco, agora, sobre o “noivo” e suas preferências. Dá para acreditar? O Bolsonaro de outros tempos, quando ainda trovejava indignação contra malfeitos para convencer a turba de que era o candidato mais adequado a ocupar a Presidência, tratava o Valdemar como “corrupto” e “condenado”. O filho número três do clã, seu preferido e malcriado Carlos Bolsonaro, não teve papas na língua para tratar (no passado, é claro!) o contagioso Valdemar pelo termo que lhe consagrou: “ladrão”. Relatava em suas redes sociais as propinas supostamente angariadas pelo antes desafeto em contratos fraudados na usina de Furnas. Depois, quando papai Messias resolveu estreitar a relação, trazendo o antigo opositor para o altar, subitamente Carluxo surrupiou o post de acusações, viu-se na necessidade de apagar as “injúrias” com as quais tratava esse ainda aventureiro do PL. É assim que caminha a velha e carcomida política, coroando os arrivistas de sempre. Bolsonaro, camuflado de mensaleiro por circunstância do matrimônio — mas também por força da ambição desmedida que o levou a arquitetar um desavergonhado orçamento secreto —, tinha ânsia de realizar o toma lá, dá cá para conquistar o objetivo maior da reeleição. Não hesitou um segundo sequer em furar o teto fiscal, calotear credores e pegar a grana pesada da ordem de mais de R$ 90 bilhões para gastar à vontade. Mancomunou-se com os fiéis do baixo clero, de Arthur Lira a Roberto Jefferson, chamou tudo que há de pior para sentar-se ao seu lado. Valdemar veio para assenhorar a lambança. Ao firmar o acordo pré-nupcial, decerto os dois amarraram uma bem detalhada divisão de bens. Como manda o figurino, antes mesmo de consumado o enlace. Teve espaço até para um ménage à trois, trazendo para a roda — ou para a alcova, talvez termo mais apropriado — o antes dileto do capitão, agora ministro, Ciro Nogueira. Os três entabularam os entendimentos para uma espécie de “trisal” rumo à vitória nas eleições. Dúvida imensa se serão bem sucedidos. Mas como o papel tudo aceita, deixa estar. Na cara de pau lambuzada de óleo de peroba, o capitão Bolsonaro não consegue nem ruborizar diante de tanta promiscuidade. Mergulha de cabeça na esbórnia política que tanto questionou e ainda tenta posar de bacana. Justificar o inexplicável. Seu negacionismo e mitomania patológica não são capazes de esconder o óbvio. Ele perdeu o senso de ridículo. Resta a desfaçatez indolente. Preparando-se para formalizar a mais abominável articulação de sequestro de dinheiro público da história do País, Bolsonaro planeja embolsar recursos extras para emendas secretas e ao famigerado Fundo Eleitoral, que já montaria em ao menos R$ 5 bilhões. As emendas extras contariam na casa de R$ 16 bilhões. É dinheiro do contribuinte, do aposentado, dos Estados. Verbas que tinham, por preceito constitucional e direito privado dos credores, outro destino e obrigações já contratadas, que foram negligenciadas, relegadas, caloteadas sem a menor cerimônia. O capitão quer se refestelar na farra da campanha. Depois do casamento custoso, precisava mesmo meter a mão grande em um montante de bufunfa, via gambiarra de um orçamento secreto imoral, consagrando a nova era da roubalheira aberta. Sim, porque ela é desenhada e executada à luz do dia, para quem quiser ver. Com um balcão de negócios montado no Palácio e no Congresso, tem gerente do caixa, interlocutores, ameaças com cobranças caras, aos moldes da agiotagem salafrária, para cooptar o apoio de parlamentares arredios e outros nem tanto. No meio disso tudo, o acerto de Bolsonaro e Valdemar é daqueles que entra para a história do crime organizado. Liberou geral, caros brasileiros! A farra parece tomar conta de vez em Brasília. Perca as esperanças com essa turma, antes que tenha de perder as próprias calças. A inflação descontrolada está aí. O desemprego também. Os juros altos, idem. Tudo piorou para cada um dos contribuintes que quitam a fatura dessa festa. Valdemar, Lira, Ciro, Jefferson, Bolsonaro & Cia, os convescotes habituais, minaram a democracia representativa e agora constroem o que há de pior nas entranhas de nossa República Federativa. Ai de nós. Resta rezar e esperar as urnas.