Hollywood se transformou em uma fábrica de pesadelos. É assim que os executivos do setor cinematográfico e a imprensa dos Estados Unidos se referem à antiga “fábrica de sonhos”, por causa do desempenho do novo lote dos blockbusters de verão. Os filmes repletos de efeitos especiais e perseguições estrelados por super-heróis ou assemelhados ocupam o circuito exibidor local para em seguida invadir o do resto do mundo. Sempre foi assim, mas sinais de perigo vêm da bilheteria doméstica, que decai e não cobre mais os altos custos das franquias e outras superproduções.

Por isso, o cinema americano depende cada vez mais do mercado externo. O público internacional — em especial o chinês — têm ajudado a turbinar filmes que se deram mal em casa.

Qual o prazo de validade do modelo consagrado de produzir e distribuir filmes?

A reposta vale US$ 1 bilhão, o limite monetário capaz de converter um sucesso em arrasa-quarteirão segundo os critérios inflados dos chefes dos estúdios. A longo prazo, a estimativa é de que o paradigma terá de ser superado. “Até os chineses estão ficando mais exigentes em relação ao conteúdo dos roteiros”, diz o crítico Luiz Carlos Merten. “A mudança se dá na forma de ver filmes, com reflexos na bilheteria. Isso leva a uma mudança.”

Talvez haja pessimismo exagerado em uma área acostumada há uma década a lidar com cifras altas e recepção complacente.
Mas tudo é hiperbólico em Hollywood, inclusive o temor do fracasso. Um exemplo está no longa-metragem “Transformers 5 — o Último Cavaleiro”. Imaginado pelo diretor Michael Bay para explodir as mentes da geração millennial, o filme foi rejeitado na estreia em 21 de junho. As plateias jovens e os críticos zombaram da aventura que junta autobôs (robôs que viram carros de uma marca de brinquedos) e os cavaleiros da Távola Redonda. Espectadores confessaram que dormiram durante as sessões, mesmo que o filme tenha sido rodado com câmeras IMAX 3D para projeção em supertelões e o som seja ensurdecedor ao longo de duas horas e meia de brigas, caçadas e explosões. A bilheteria foi pífia de acordo com as metas da indústria: US$ 129 milhões, para um orçamento de US$ 217 milhões.

Salvação

Para evitar uma hecatombe maior que a empreendida entre os autobôs Megatron e Optimus Prime no filme, Michael Bay e a atriz Isabela Moner fazem uma turnê mundial patrocinada pela Paramount para promover a franquia, que completou dez anos.
A excursão tem rendido dividendos e um nono lugar entre os êxitos da temporada — e deve chegar ao bilhão. Os dois esteveram em São Paulo na semana passada para a pré-estreia do filme, que entra em circuito dia 20 no Brasil. Foi um hype:
sob holofotes e assédio de youtubers-blogueiros-fãs, Bay foi questionado sobre o modo como faz cinema sem considerar uma geração que prefere dispositivos móveis e pirataria a ir ao cinema. Ele respondeu que, aos 52 anos, se acha um cineasta da velha guarda. “Filme para mim tem que ser em tela grande”, disse. “Sei que o que faço está fora de moda. As telas encolhem e o modelo de blockbuster deve encolher.” Segundo Baye, Hollywood enfrenta agora um dilema: ou se reinventa ou sucumbe.

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O recurso para salvar o cinema da era da extinção é objeto de hipóteses. “Se os estúdios derem ao público o que ele quer, podem fazer sucesso”, afirma o youtuber e crítico Roberto Sadowski.

“O problema é saber o que ele quer. Hoje assistimos à volta das franquias de super-heróis, porque elas satisfazem o desejo por modelos mitológicos. Mas até quando?” Não há solução visível, diz Merten. “Só tenho duas certezas: os cineastas terão de renovar o fator surpresa em suas histórias e não há mais espaço para filmes de arte” — se é que algum dia houve algo parecido na velha fábrica de blockbusters.

EM TURNÊ O diretor Michael Bay no evento em São Paulo para promover o filme (Crédito:Gabriel Reis)

 


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