Nas próximas semanas, mais um tesoureiro petista pode estar sob a batuta do juiz Sérgio Moro. Trata-se do ex-ministro Edinho Silva. Sua recorrente prática, adotada nas últimas campanhas de Dilma Rousseff, de não só gerenciar como cobrar, em tom impositivo, recursos para o caixa dois foi denunciada por pelo menos três empreiteiros: Ricardo Pessoa, da UTC, Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, e Marcelo Odebrecht. Ricardo Pessoa, da UTC, narrou ter sido pressionado por ele em 2014 a doar mais do que fora combinado e feito dentro da lei. Otávio de Azevedo,  da Andrade Gutierrez, revelou que o tesoureiro de Dilma esperava arrecadar R$ 700 milhões das maiores construtoras. Marcelo Odebrecht, conforme antecipou ISTOÉ em sua última edição, disse em acordo de delação que Edinho exigiu R$ 12 milhões por fora para a campanha de Dilma em 2014: R$ 6 milhões para o marqueteiro João Santana e R$ 6 milhões para o PMDB. Odebrecht disse que procuraria a presidente Dilma para confirmar a necessidade do pagamento. Foi aí que veio a surpresa que lhe obrigou a abrir a carteira. A presidente teve conhecimento do pedido e mandou que atendesse.

Desde que chegou à presidência da República, a figura do tesoureiro virou uma das principais fontes de dor de cabeça dos petistas. Delúbio Soares cumpriu pena no Mensalão. João Vaccari Neto está preso no Petrolão. Agora, sem o privilégio de foro desde o afastamento da presidente Dilma, é grande o risco de Edinho vir a se tornar o terceiro tesoureiro ligado ao PT preso.

A sanha em captar recursos para a campanha presidencial de 2014 foi tamanha que fez surgir um episódio insólito: o chamado duplo bote. Empresários chegaram a reclamar de sofrerem um assédio com as mesmas exigências por Edinho Silva e pelo tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. Na ocasião, ficaram em dúvida para qual deles acertariam a ajuda a Dilma. Em delação premiada, Otavio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, disse que, após doar R$ 60 milhões via Vaccari, teve de desembolsar mais R$ 40 milhões por meio de Edinho. O valor está bem acima do que o Partido dos Trabalhadores declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter recebido da empreiteira. Otavio Azevedo foi além em seus depoimentos. Afirmou aos procuradores que o ex-ministro da Comunicação Social de Dilma lhe disse que as sete empreiteiras com mais obras com o governo federal precisariam contribuir com um total de R$ 700 milhões para reeleger a candidata petista.

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Em pelo menos um caso, Vaccari e Edinho teriam agido em dobradinha. Em um dos primeiros acordos de delação premiada selados por empreiteiros, Ricardo Pessoa, dono da UTC, afirmou que Vaccari mandou que ele procurasse Edinho para acertar contribuições para a campanha. Segundo Pessoa, ocorreram três encontros entre eles. Dois deles aconteceram no comitê central do Partido dos Trabalhadores, em Brasília. Outra na sede da UTC, na capital paulista. Nas reuniões, Edinho deixou clara a ligação entre as doações e os acordos firmados pela construtora com estatais. Em uma das ocasiões, o petista disse: “O senhor tem obras no governo e na Petrobras, então o senhor tem que contribuir. O senhor quer continuar tendo?” Foi acertada uma doação de R$ 5 milhões a ser paga em duas parcelas. Mas, logo após a UTC quitar o acordo, Edinho pediu mais. Queria outros R$ 5 milhões. Metade foi pago. A outra parcela acabou suspensa com a prisão de Ricardo Pessoa pela força-tarefa que investiga o Petrolão. Era um dos primeiros sinais que a Lava Jato atrapalharia a vida de Dilma e de Edinho.

As acusações são um duro golpe às pretensões políticas do petista Edinho Silva. Podem comprometer a sua tentativa de voltar ao comando da prefeitura de Araraquara nas eleições deste ano. Foi na cidade do interior de estado de São Paulo que ele ganhou projeção dentro do partido. Tornou-se vereador e prefeito. Em 2010, elegeu-se deputado estadual, conciliando o mandato com a presidência estadual do PT. Forte na burocracia petista, Edinho foi escolhido para cuidar do caixa da campanha à reeleição de Dilma e, como prêmio, ganhou o ministério da Secretaria de Comunicação Social. No meio político, a nomeação foi encarada como uma tentativa de assegurar-lhe o privilégio de foro, dada a extensão de sua ficha corrida.