Sábado, 18 de agosto, em São Luís. Uma hora antes do primeiro ato da campanha de Roseana Sarney (MDB), candidata ao governo do Maranhão, o animador do evento pergunta ao coronel Vieira, integrante da segurança da filha do ex-presidente José Sarney. “Podemos começar? Apenas um deputado chegou (o sobrinho dela, Adriano Sarney, candidato à reeleição na Assembleia Legislativa)”. O coronel Vieira assente com a cabeça e emenda: “Vamos deixar as lideranças comunitárias falarem primeiro, e esperar que os outros apareçam”.

O tempo passa e as lideranças comunitárias da região se revezam por 40 minutos ao microfone sob a coordenação de Sebastião Santos, candidato a vereador autoproclamado “maior representante comunitário” da região Itaqui-Bacanga, complexo de 35 bairros próximos ao Porto do Itaqui (MA). A tática de tentar esperar por mais nomes de peso da política local foi em vão. A participação de outros políticos se resumiu tão somente ao sobrinho de Roseana. Ele subiu, então, ao palco e falou para um público composto de aproximadamente 300 pessoas, boa parte levada para lá em ônibus pagos pelos organizadores, em um clube decadente do bairro Anjo da Guarda. ISTOÉ acompanhou toda a movimentação.

A cena esvaziada e melancólica nem de longe lembra os maiores atos políticos da ex-governadora maranhense e da sua família, que dominou a política no Estado desde que o patriarca José Sarney elegeu-se governador em 1966, até a ascensão do atual governador, Flávio Dino (PCdoB), eleito em 2014 e que disputa a reeleição. Depois da derrota para Dino nas últimas eleições, Roseana chegou a declarar que iria se aposentar. Cuidar da saúde frágil e dar atenção para os filhos e netos. Com um patrimônio de R$ 11 milhões, Roseana não depende financeiramente da política. Contudo, por pressão do pai, ela resolveu retornar. Oficialmente, Roseana diz que está de volta “a pedido do povo” e para evitar “os desmandos do atual governador”. Extraoficialmente, a família Sarney joga mais uma vez suas fichas em Roseana para reverter uma derrota política que, até hoje, não foi bem digerida.

“Eu comecei a sair pelas ruas do Estado, da capital e eu vi os olhares dos maranhenses frustrados, esquecidos com o governo que aí está. Eu disse: eu não posso mais ficar calada”, destacou Roseana durante seu discurso no comício. “Estou de volta para defender o nosso povo”, declarou a ex-governadora. A atual situação é inédita para a família Sarney desde que o patriarca elegeu-se governador pela primeira vez: Roseana está na oposição. Além disso, neste ano, a coligação “O Maranhão quer mais” conseguiu apoio apenas de partidos relativamente pequenos. Ao lado do MDB, estarão PSC, PSD, PMB, PV e PRP.

A coligação de Flávio Dino é maior. Tem ao seu lado 16 partidos. A pressão em torno de Roseana para tirar seu clã do ostracismo irrita a candidata. “Olha, eu tenho nome e sobrenome. Eu gostaria que começassem a me respeitar”, reagiu ela. “O governador Flávio Dino já cumpriu 95% de suas promessas de campanha. Em algum governo da família Sarney isso aconteceu?”, rebate o deputado Weverton Rocha (PDT), um dos aliados de Dino. “Roseana teve quatro mandados para colocar o estado nos rumos corretos e não o fez”, emenda o deputado Rubens Pereira Júnior (PCdoB). Vitoriosos ou derrotados, Roseana Sarney e seu clã sabem que a eleição de 2018 será a batalha mais difícil de sua longeva jornada política.