Para além do confronto comercial entre China e Estados Unidos, também há um choque de nacionalismos, entre as ambições do gigante asiático emergente e o temor de Washington de perder sua influência.

Mesmo com um acordo econômico, ambas as potências continuarão a enfrentar tensões geopolíticas em temas como Taiwan, ou Coreia do Norte, a presença dos Estados Unidos no mar da China, ou as acusações de espionagem de Washington contra a companhia de telecomunicações chinesa Huawei.

O acordo comercial pareceu ficar mais difícil esta semana com a entrada em vigor, na sexta-feira, de novas tarifas nos Estados Unidos contra os produtos chineses. Nesse mesmo dia, os negociadores se separaram em Washington, sem marcar uma data para uma próxima reunião de negociação.

Do lado americano, o presidente Donald Trump fez da China um dos alvos favoritos de sua campanha presidencial de 2016, acusando Pequim de “roubar” empregos dos Estados Unidos.

No mês passado, a diretora de Planejamento de Políticas do Departamento de Estado americano, Kiron Skinner, surpreendeu, ao descrever a rivalidade com a China como “um combate contra uma civilização realmente diferente e uma ideologia diferente”.

É a primeira vez que os Estados Unidos enfrentam “um grande rival que não é de raça branca”, disse ela, durante um fórum sobre questões de segurança.

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Por meio de seu porta-voz das Relações Exteriores, Geng Shuang, a China rebateu, considerando “absurdo e totalmente inaceitável” examinar as relações bilaterais do ponto de vista do “choque de civilizações e até de uma perspectiva racista”.

Desde a chegada de Xi Jinping ao poder, no final de 2012, o regime comunista também apela para o nacionalismo. Nesse sentido, o presidente vende para seus compatriotas o “sonho” de um “grande renascimento”, após as humilhações ocidentais à China iniciadas no século XIX.

– Hostilidade –

“Objetivamente, a guerra comercial reforçou como nunca a hostilidade entre as sociedades chinesa e americana”, tuitou no sábado o editor-chefe do jornal “Global Times”, Hu Xijin.

“A hostilidade mútua pode se tornar incontrolável, provocando uma grande regressão do conjunto das relações internacionais. Me preocupa muito”, disse Xijin, próximo ao governo e com posições nacionalistas.

A guerra comercial lançada no ano passado por Trump “convenceu mais chineses, não apenas líderes paranoicos […], de que os Estados Unidos querem bloquear a emergência da China” como potência, afirma o especialista em China Bill Bishop, editor do boletim “Sinocism” nos Estados Unidos.

Pequim pode tentar aproveitar o aumento do nacionalismo, mas “é uma faca de dois gumes”, que pode se voltar contra o regime, se este for acusado de fraqueza diante de Washington, diz o analista.

Na China, existe “um fundo de xenofobia, em geral, e de antiamericanismo, em particular”, que pode provocar apelos para se boicotar os produtos americanos, afirma Bishop, apesar de, até o momento, Pequim ter censurado convocações desse tipo nas redes sociais.

Os dois países também se enfrentam para estabelecer sua influência no resto do mundo – no caso da China, com seu faraônico programa de infraestrutura chamado “Novas Rotas da Seda”, que Washington considera “presunçoso”.

Em paralelo, a China está modernizando rapidamente seu Exército e tem o segundo maior orçamento militar do mundo, ainda longe, porém, do dos Estados Unidos.

Ainda que as duas potências acabem assinando um acordo comercial, a rivalidade continuará sendo “feroz”, adverte Hua Po, um cientista político independente de Pequim.


“Os Estados Unidos têm razões para estarem preocupados com a China”, garante ele. “Embora continue sendo um país em desenvolvimento, empenha-se em alcançar os Estados Unidos”, completou.


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