Os resultados das eleições de domingo no Chile mostram que a população local tem apreço pela democracia e está interessada em governantes moderados de centro e centro-esquerda, de perfil socialdemocrata. De alguma forma, a vitória do ex-líder estudantil Gabriel Boric, da coalizão Aprovo Dignidade sobre o político de extrema-direita José Antonio Kast aponta para o esgotamento da falácia ultraconservadora que vem assolando a América Latina, retirando conquistas sociais e aumentando a pobreza nos últimos anos. Numa reversão das expectativas geradas no primeiro turno da disputa eleitoral, que indicavam vantagem para Kast, Boric, de 35 anos, conseguiu vencer com uma margem importante que lhe garantirá boas condições de governabilidade e apoio popular.

É uma boa notícia não só para o Chile, mas para o mundo, já que o ideário de Kast remete à ditadura sanguinária do general Augusto Pinochet, que, segundo ele, “optou pela liberdade e fez o que tinha que fazer”. Já Boric é um homem dos novos tempos, que deve trabalhar pela unificação do País.

A vitória de Boric, que sucederá o atual presidente Sebastian Piñera, também um conservador que esteve sob o risco de sofrer um impeachment, mostra que os projetos autoritários estão em crise na região e que experiências traumáticas, como a de Jair Bolsonaro no Brasil, estão com os dias contados. Muito provavelmente, inúmeros eleitores chilenos votaram contra Kast pensando que poderiam amanhecer governados por um sujeito extremista e ignorante como o presidente brasileiro. Há sinais de que as frequentes ameaças à democracia promovidas por governantes radicais causam medo na sociedade, que quer se livrar da polarização excessiva e deseja políticas mais inclusivas e igualitárias.

A vitória de Boric mostra que os projetos autoritários estão em crise e que experiências como a de Jair Bolsonaro têm os dias contados

Com uma pequena dose de otimismo, pode-se considerar a disputa no Chile como uma antecipação do que deve ocorrer no Brasil no ano que vem, com grupos mais progressistas avançando em espaços políticos ocupados pela extrema-direita, que faz muito barulho, mas nada resolve.

Os brasileiros querem o mesmo que os chilenos: democracia, liberdade e justiça social. Também querem esperança de dias melhores e o fim da cultura do ódio promovida pelos radicais. Com sujeitos como Kast ou Bolsonaro essas mudanças são impossíveis. E por isso se espera que o eleitor local siga o exemplo dos vizinhos e se desfaça de Bolsonaro, um dos símbolos mais vexatórios da direita global.