O calvário da primeira-ministra britânica Theresa May ganhou lances dramáticos na última semana, e eles podem forçá-la a renunciar. Sem a efetivação do Brexit e ainda integrando o bloco europeu, o Reino Unido foi levado a participar das eleições parlamentares europeias na última quinta-feira 23. Num pleito marcado por polaridade crescente, o Partido Conservador de May chegou à reta final apenas na quinta posição, e se preparava para amargar uma grande derrota. O maior beneficiário, segundo o instituto de pesquisas YouGov, era o novo Partido do Brexit. Com 37% das intenções, a agremiação é liderada pelo ultranacionalista Nigel Farage, um eurocético que sempre defendeu uma saída da UE sem acordo.

Não foi o único revés da premiê. Em uma tentativa final de aprovar um Brexit amigável no Parlamento britânico, ela sugeriu um novo projeto, a ser votado no início de junho, e enfrentou uma rebelião em seu partido e forte oposição do Legislativo. Pelo plano, May chegou a acenar na terça-feira 21 com a possibilidade de um novo referendo destinado a chancelar popularmente as condições do acordo. Também introduziu concessões negociadas com a oposição, como a continuidade de normas de trabalho e ambientais que vigoram na Europa.

Sem apoio

“Se votarem contra o plano, parlamentares optarão por interromper o Brexit” Theresa May,primeira-ministra (Crédito: Kirsty Wigglesworth / POOL / AFP)

O esforço pode ser em vão. O líder da oposição, Jeremy Corbyn, já afirmou que não apoiará o novo plano. O Partido Trabalhista não concorda com a manutenção do modelo de união aduaneira temporária com a União Europeia, sugerido anteriormente por May e retomado no novo projeto. Os trabalhistas querem um compromisso definitivo nesse item, o que tanto May como os apoiadores do Brexit consideram inadmissível. Ao mesmo tempo, os conservadores passaram a atacar a proposta de um novo referendo. Pelo menos dois ministros do governo já se mostraram contrários ao novo acordo e a líder do governo no Parlamento, Andrea Leadsom, renunciou.

Após dois anos de negociação com os europeus e três tentativas frustradas de aprovar um projeto de desligamento, um novo fracasso no Parlamento pode selar o destino de May e abrir caminho para a convocação de eleições gerais e a formação de um novo governo. Ela já superou dois votos de desconfiança do Legislativo, mas sua situação está cada vez mais precária.

O tempo corre contra a premiê. O prazo inicial para o Brexit entrar em vigor era 29 de março passado. May já conseguiu adiar a data duas vezes. Conforme o acerto mais recente com os europeus, a separação deve ocorrer até 31 de outubro deste ano.