Enquanto tudo caminha para repetirmos em 2022 a velha polarização entre os extremos do lulopetismo e do bolsonarismo, o centro tenta aglutinar forças para viabilizar uma candidatura de consenso entre pelo menos oito pretendentes à vaga (Doria, Leite, Jereissati, Huck, Moro, Amoêdo, Mandetta e Ciro). É necessário que a maioria abra mão de postular a cabeça da chapa. Nos últimos dias, no entanto, começaram a surgir indícios de definições nesse importante espectro político. Luciano Huck, que tem evitado dar entrevistas, está prestes a assinar contrato com a TV Globo para substituir Faustão, enquanto Sergio Moro estaria propenso a dar continuidade ao seu trabalho à frente da empresa de consultoria Alvarez & Marsal, da qual é sócio. Os dois estão mais longe dos palanques.

Prévias

Os três pré-candidatos do PSDB deverão se enfrentar nas prévias do partido marcadas para outubro e dois deles dançarão. Doria é conhecido por sua capacidade de vencer primárias dentro do ninho tucano: venceu a consulta para a prefeitura paulistana e para o governo de São Paulo. Jereissati é respeitado na legenda, enquanto Leite é uma promessa.

Opções

Há outros três que também lutam pela união do centro. Mandetta tem sido incentivado pelo DEM a cavar seu espaço, mas na hora H o partido sempre se alia a outro com mais pegada. Já Amoêdo vem encontrando dificuldades dentro da sua própria legenda, o Novo. Ciro, por sua vez, não costuma abrir mão de nada, nem com Lula ele quer conversa.

Ponte para o futuro

Walfrido dos Mares Guia, ministro do Turismo de Lula, foi escalado pelo líder máximo petista para ser o seu interlocutor junto ao empresariado com vistas à sua candidatura presidencial em 2022. Mares Guia é tido como bom articulador, mas tem um passado pouco abonador. Foi vice do governador Eduardo Azeredo (1995-1999) e um dos acusados no mensalão tucano, mas seus crimes acabaram prescrevendo.

Retrato falado

“Bolsonaro é uma aberração” (Crédito:WERTHER SANTANA)

O ex-ministro e embaixador nos EUA, Rubens Ricupero, não poupou adjetivos para descrever o que pensa a respeito do presidente Jair Bolsonaro. Para ele, o ex-capitão faz uma gestão “catastrófica, calamitosa e desastrosa”. E dispara: “O Brasil cometeu um grave erro ao eleger Bolsonaro como presidente da República em 2018”. Segundo ele, se o que está acontecendo no Brasil acontecesse na França ou na Argentina, “o povo já teria incendiado supermercados”, diz o diplomata.

Chapéu alheio

Bolsonaro vai na contramão das promessas que fez em relação a isenções, subsídios e desonerações a setores protegidos pelo governo, e, ao invés de reduzir as benesses, está ampliando-as. É a chamada cortesia com o chapéu alheio, feita com o dinheiro dos trouxas contribuintes. Ao elaborar as diretrizes orçamentárias para 2022, Guedes decidiu abrir mão de uma arrecadação de R$ 365,2 bilhões em impostos de setores subsidiados, o que representa 4,11% do PIB, superando as mamatas deste ano, avaliadas em 4,02% do PIB. Entre os setores privilegiados estão a Zona Franca de Manaus (R$ 42,9 bilhões), a agricultura (R$ 36,9 bilhões) e até o setor automotivo (R$ 5,9 bilhões).

Igrejas

Pior é que essas isenções atingem setores que não precisam de proteção governamental, como é o caso das igrejas, um dos currais eleitorais de Bolsonaro. Elas terão isenções de R$ 1,4 bilhão até 2024. Sem contar que arrecadam dízimos sem nenhuma prestação de contas, enriquecendo os pastores amigos.

Queimando o filme

Pré-candidato a presidente, Ciro Gomes publicou no Twitter uma foto dele abraçado ao publicitário João Santana e ao presidente do PDT, Carlos Lupi, para anunciar a contratação do marqueteiro para tocar sua campanha, ao custo de R$ 250 mil mensais. Santana foi o mentor das campanhas de Lula e de Dilma, o que o levou à prisão por corrupção.

Divulgação

Puxou cadeia

Por ter recebido valores milionários não declarados em contas no exterior, Santana foi condenado em 2017 a uma pena de sete anos e seis meses de cadeia. Para ficar em prisão domiciliar, ele fez acordo de delação premiada, entregou os amigos petistas e ganhou liberdade com tornozeleira eletrônica. Defende uma chapa com Lula para vice de Ciro.

Barco fazendo água

Alan Santos/PR

A candidatura de Lula à presidência está atraindo vários aliados de Bolsonaro. Um dos que ameaçam deixar o barco do capitão é Gilberto Kassab, presidente do PSD, que já se aproxima do PT. Tanto que um de seus aliados, o ministro Fábio Faria (deputado licenciado pelo PSD), um dos bolsonaristas mais devotos, ameaça deixar o partido do ex-prefeito de São Paulo.

Toma lá dá cá

Edinho Silva, prefeito de Araraquara (Crédito:JOSE PATRICIO)

O senhor decretou lockdown que fez a Covid retroceder em Araraquara. Por que Bolsonaro não faz o mesmo?
O Brasil está totalmente à deriva no combate à pandemia. Estamos vivendo a maior tragédia humanitária da história, com quase 400 mil mortos, mas o presidente permanece alheio ao drama.

Fechar tudo é a solução?
O lockdown é um remédio amargo, mas que surte efeito. Surtiu em Araraquara e em outros lugares do mundo em que ele foi adotado. Estávamos virando uma nova Manaus e hoje os casos caíram 65%.

Qual é a saída para o País então?
A saída viável a médio prazo é a eleição de Lula para presidente. Ele é o único capaz de pacificar o País e fazê-lo voltar a crescer, gerar renda e emprego para todos.

Rápidas

* A nova menina dos olhos de Doria tem nome e sobrenome: Rio Pinheiros. Desde que surgiram peixes nadando no local, o governador não se cansa de contar outras espécies que apareceram no manancial, como garças e tartarugas. Promete despoluir o rio até o final de 2022.

* Flávio Bolsonaro espalha no Senado que o seu candidato a ministro do STF no lugar de Marco Aurélio é o presidente do STJ, Humberto Martins, que andou beneficiando-o no caso das rachadinhas. Uma mão lava a outra.

* Paulo Guedes está sorrindo de orelha a orelha. Conseguiu que Bolsonaro sancionasse o Orçamento de 2021 com vários cortes. O Ministério do Desenvolvimento Regional de seu arquirrival Rogério Marinho levou a maior tesourada.

* Os generais estão gostando de participar do jogo da política. Dois deles pensam em ser candidatos ao Senado nas próximas eleições. Eduardo Pazuello pelo Amazonas e Hamilton Mourão pelo Rio Grande do Sul.