Clarinha casou com o Valdomiro muito mais para esquecer do ex, do que por amor de verdade.

E olha que cansaram de avisar que o Valdomiro não era flor que se cheirasse.

Mas a verdade é que o ex-namorado da Clarinha tinha sido tão safado, mas tão safado, que qualquer coisa era melhor que “aquilo”.

“Aquilo” era como ela chamava o ex, que até roubar dinheiro dela o canalha roubou.

O Valdomiro podia não ser lá grande coisa, mas para ela estava ótimo. A bem da verdade, aviso é o que não faltou.
– Clara, Clara… abre esse teu olho – avisou a mãe, experiente, dias antes do matrimônio.

– Abre o olho com o que, mãe?

– Esse Valdomiro não presta para marido, minha filha!

– Até a senhora, mãe? Quem foi fazer futrica agora?

– A Berê, do salão.

Clarinha se preocupou.

Porque o que não faltava no bairro era gente fofoqueira.

Mas a Berê não dava ponto sem nó.

Sabia das coisas de verdade.

Berê dizia que sabia até a cor da cueca dos meninos.

E do Valdomiro ela sabia mesmo, porque os dois tiveram um casinho.

Mas Clarinha estava apaixonada, aí já viu.

E o Valdomiro falava tudo o que ela queria ouvir.

Ele também não se bicava com o ex, então mais um ponto para o Valdomiro.

Como queria enterrar de vez o ex, Clarinha ignorou os sinais, os avisos e os conselhos de que aquilo não ia dar certo.

Então ela aceitou quando ele a pediu em casamento.

A verdade é que o próprio Valdomiro não se ajudava.

Era cheio de graça na mesa de bar, mesmo com a Clarinha presente.

Fazia troça para as moças da mesa ao lado, contava piadas machistas e, vira e mexe, dava uns perdidos no final da noite Clarinha nem tchuns. Estava que era só ilusão.

Valdomiro era tão sem noção, que até no casamento, no altar, quando o padre perguntou se alguém se opunha ao casamento, de farra, levantou a mãozinha.

Clarinha achou graça, fazer o que? Casaram.

Passaram a lua de mel no apartamento que o pai da Clarinha deu para os dois.

Viajar nem pensar, porque o Valdomiro estava desempregado há tempos.

Os meses passaram a ser anos e o Valdomiro igualzinho.

Mulherengo, às vezes chegava a casa com cheiro de perfume de mulher. Clarinha não botava reparo.

– Ele é assim mesmo, mãe. Gosta de interagir com as pessoas.

Alguns finais de semana Valdomiro dizia que ia pescar com os amigos. Clarinha achava ótimo.

Ele ia e os amigos ficavam. Mas ela dava a maior força.

– Tem mais é que se distrair, poxa vida.

Quanto mais o tempo passava, mais era evidente que o Valdomiro não tinha nascido para ser marido de ninguém.
Era boêmio, irresponsável e de uns tempos para cá, deixou até de disfarçar. Às vezes parecia que fazia coisas para testar até onde poderia ir com a Clarinha, de tão descarado que era.

No bairro ganhou o apelido de “Vadinho”, em referência à personagem de Dona Flor. Ele foi visto de madrugada com duas mulheres a tiracolo.

– Vocês têm é inveja – Clarinha defendia o marido no cabeleireiro.

Com o tempo, até os amigos do próprio Valdomiro foram se afastando.

– Não dá, meu! O Vadinho chuta o caneco demais. Minha mulher não deixa mais nem trocar Whatsapp com ele.

A essa altura o bairro inteiro sabia que Valdomiro definitivamente não prestava. E a Clarinha? Nem aí.

No bairro, Valdomiro ganhou o apelido de “Vadinho”, em referência à personagem
de Dona Flor. Ele foi visto de madrugada com duas mulheres a tiracolo

A família resolveu intervir.

Juntaram um monte de histórias escabrosas do Valdomiro, chamaram a Clarinha e contaram tudo.

Clarinha ouviu, ouviu, ouviu e não se abalou.

Quando terminaram de revelar as safadezas do Valdomiro, a única reação de Clarinha foi dizer:

– Tá bom. Já entendi. Vocês preferiam que eu tivesse casado com “aquilo”, é isso?

Se depender da Clarinha, esse casamento vai longe.

E Bolsonaro também, até 2026.