Quando as redes sociais surgiram houve um momento de êxtase: reencontrar o amigo de infância perdido no tempo foi uma experiência positiva para milhões de pessoas. O mundo ficou menor: mérito dos jovens empreendedores que inventaram uma forma genial de conectar as pessoas e eliminar, ainda que virtualmente, as fronteiras que nos separam.

Hoje é preciso maturidade para olhar o fenômeno e dizer: deu tudo errado. As redes tornaram-se uma droga perigosa, que nos apresentou um mundo de ilusão e nos enganou até ficarmos viciados. O conceito inicial, aproximar as pessoas, sumiu. As redes viraram máquinas de desinformação, nas quais robôs e escravos do próprio ego agem livremente para disseminar discursos de ódio. Culpa das plataformas e de seus algoritmos oniscientes e imperiais, que estimulam ambientes de “bolha” onde todos que pensam da mesma maneira vivem confinados. A culpa também é nossa, que deixamos que usassem nossas vidas como iscas para atrair outros para o vício.

O problema é que, no universo digital, as leis são bem mais lentas que a esperteza daqueles que buscam oportunidades para se dar bem — fazendo o mal. E assim, com agilidade que seria impensável no mundo real, grupos de delinquentes passaram a utilizar essas poderosas ferramentas não apenas para defender golpes de estado e movimentos de sedição, mas para organizá-los e promovê-los. O caso da Cambridge Analytics, empresa que manipulou a campanha americana a favor de Donald Trump, é apenas a ponta do iceberg para o qual caminhamos como um Titanic global. Para cada vídeo de gatinho que damos nosso “like”, há milhares de neonazistas protegidos pela liberdade de expressão garantida pelas grandes corporações. O lado nocivo, o efeito colateral das redes sociais, tornou-se a própria essência que movimenta bilhões de dólares.

As plataformas viraram máquinas de desinformação, nas quais robôs e escravos do próprio ego agem para disseminar discursos de ódio

A suspensão eventual de alguns perfis tem o efeito de um bandaid sobre um tumor em metástase. Para as crianças, são bombas-relógio feitas de recompensas vazias e promessas mentirosas de fama. O resultado será catastrófico se não agirmos agora. A solução é radical: o cancelamento das redes sociais. Aí, então, elas seriam relançadas sob uma nova legislação, criada por um comitê internacional e multidisciplinar. Educadores, juristas, especialistas, psicólogos e diplomatas. Nada de empresários, nem políticos: a vida em sociedade é muito importante para deixar na mão de quem só têm compromisso com os lucros ou com os próprios interesses.