BRASILEIROS DO ANO
Seu jorge – Cinema

O ano de 2021 pode ter sido difícil para muitos artistas, mas Seu Jorge certamente não está entre eles. Graças a uma convergência na agenda de filmagens e lançamentos, o ator de 51 anos foi o protagonista em quatro filmes lançados em um único ano, curiosidade que provavelmente lhe rende um recorde no cinema nacional. O mais popular deles – e o mais polêmico – foi Marighella, dirigido por Wagner Moura. Conta a trajetória do ativista Carlos Marighella e a luta de seu grupo político contra o regime militar. Apesar de ter estreado oficialmente no Festival de Berlim, em 2019, com direito a dez minutos de aplausos da plateia ao final, o filme baseado na biografia de Mário Magalhães só chegou ao Brasil em 2021. A demora foi fruto de dificuldades impostas pela Ancine, uma vez que o discurso anti-militar da produção é contrário à postura do presidente Jair Bolsonaro. Marighella estreou em cerca de 300 salas e foi o filme brasileiro mais visto do ano – já pode ser conferido também no streaming, pois desde 4 de dezembro faz parte do catálogo da Globoplay.

Em tom mais leve, com produção da Globo Filmes, o ator estrelou Pixinguinha – Um Homem Carinhoso, cinebiografia do flautista, saxofonista, compositor e maestro brasileiro. O filme sobre a vida de Alfredo da Rocha Vianna Junior tem Taís Araújo no elenco, no papel da mulher do artista, Beti, roteiro de Manoela Dias e direção de Denise Saraceni. Além da bela história de amor, prima por uma trilha sonora composta por 44 obras-primas remixadas a partir dos fonogramas originais, culminando com a morte do músico no Rio de Janeiro, em pleno carnaval de 1973.

Abe é outra produção finalizada em 2019, mas que só chegou ao País nesse ano. Dirigido por Fernando Grostein Andrade, conta com a participação do ator americano Noah Schnapp, o “Will” da série Stranger Things. A história é uma mistura original de gastronomia e religião, em que o garoto Abe, de origem palestina e israelense, encontra na arte de cozinhar uma forma de pacificar os dois lados da família. Seu Jorge é o personagem Chico Catuaba, que ensina a ele tudo sobre a “fusion food”, mescla de diversas escolas culinárias.

O ano cinematográfico de Seu Jorge termina com Medida Provisória, dirigido por Lázaro Ramos. O filme ainda não estreou para o grande público, mas pode ser visto no Festival de Cinema do Rio de Janeiro em 15 de dezembro. Baseado na peça Namíbia, Não!, de Aldri Anunciação, é uma distopia futurista onde o governo brasileiro decreta uma lei que obriga os cidadãos negros a voltarem para a África. O elenco tem Adriana Esteves, Emicida e Taís Araújo, além do ator britânico Alfred Enoch, dos filmes de Harry Potter. Como se não bastasse essa sequência de lançamentos, Seu Jorge termina o ano com as gravações de How to be a Carioca, série de Carlos Saldanha para o canal Star+. Em cada episódio, um estrangeiro é ajudado por um carioca. Resta saber se o ator ainda se lembra como “ser um carioca”, como diz a série: Seu Jorge mora em Los Angeles, nos EUA, desde 2012.

Tudo começou nos palcos

O ano de 2021 para Seu Jorge não foi bom apenas no cinema, mas também na música. Na verdade, essa foi a carreira que o artista abraçou quando ainda nem sonhava com as telas. Antes de brilhar em produções como Cidade de Deus e Tropa de Elite 2, o músico era o líder do projeto Farofa Carica, cujo primeiro álbum lançado em 1998 apresentou uma mistura interessante influenciada por estilos que iam do samba ao rock, passando pelo reggae e funk. Em 2001 e 2005, com o lançamento de seus dois discos solo, Samba Esporte Fino e Cru, respectivamente, ele se firmou como um dos maiores compositores do País. A carreira de músico e ator se fundiu em 2005, quando o diretor americano Wes Anderson o escolheu para o elenco de A Vida Marinha com Steve Zissou. O brasileiro ficou famoso pelo papel de “Pelé dos Santos”, cientista que passava o tempo livre interpretando versões de David Bowie em português – a trilha sonora foi um sucesso no Brasil e nos EUA. Com a restrição de shows ao longo do ano, Seu Jorge conseguiu retomar as apresentações apenas no mês de dezembro, quando dividiu o palco com o cantor Alexandre Pires na turnê Irmãos. baseada na live que os dois promoveram juntos durante a pandemia.