Ao convocar a população para o ato que pediu o fechamento do Congresso e do STF, Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade, conforme prevê o artigo 85 da Constituição. Só por isso já poderia sofrer impeachment. Mas não é tal razão que poderá vir a ser retirado do poder. O que tem chance de derrubá-lo é o agravamento da crise econômica. Governos das últimas décadas caíram por causa do fracasso na economia. O regime militar só assumiu
o poder em 1964 porque a economia de João Goulart não vinha bem. E os militares caíram em 1985 porque o general João Figueiredo não conseguiu controlar a crise gerada pela crescente dívida externa. No período da redemocratização, todos os governos que enfrentaram problemas com a economia balançaram e dois caíram: Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff. Com José Sarney, o primeiro civil depois dos 21 anos dos militares, quase ocorreu o mesmo porque gerou uma hiperinflação. Deixou um pepino para o sucessor, Collor de Mello.

O falso caçador de marajás até fez um desastrado plano econômico e deu no que deu: sofreu impeachment em 1992. Além da economia ter entrado em colapso, Collor não tinha maioria no Congresso e se desgastou com a sociedade. Até mesmo o brilhante Fernando Henrique Cardoso, que implementou o Plano Real para segurar a inflação, teve dificuldades no segundo mandato por causa das sucessivas crises econômicas mundiais, embora tenha conseguido passar o bastão para Lula depois de obter empréstimos substanciais do FMI.

Lula passou incólume por dois mandatos, muito por conta da competência do presidente do BC à época, Henrique Meirelles. A economia bombou e ele conseguiu superar a crise de 2008. Nem mesmo o escárnio do mensalão derrubou o petista. Conseguiu eleger Dilma, que navegou em mares calmos no primeiro mandato. A petista, no entanto, isolou-se do Congresso, da sociedade e até de seu próprio partido, mergulhando o País na mais grave crise de corrupção já vivida. A economia entrou em profunda recessão. Moral da história: Dilma sofreu processo de impeachment em 2016.

Como se vê, sempre que a economia vai mal, o presidente cai. Dessa vez, os panelaços já estão estridentes. O descontentamento com Bolsonaro é enorme, a população rejeita a condução que vem dando no combate ao coronavírus. Com a pandemia, a economia mundial sofrerá um grande retrocesso. A estimativa é de sofrermos uma recessão brutal. A economia pode derrubar Bolsonaro, que também não tem maioria no Congresso e já está sendo rejeitado pela maioria do povo. O caminho do impeachment de Bolsonaro está sendo pavimentado.

O caminho para o impeachment de Bolsonaro já está sendo pavimentado