Uma cela no estado de Nova York ou da Pennsylvania será a residência oficial pelos próximos quatro anos do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin. Aos 86 anos, ele foi sentenciado pela Corte Federal do Brooklyn, nos EUA, pelos crimes de conspiração, fraude bancária e lavagem de dinheiro. Segundo a acusação, ele recebeu US$ 6,5 milhões em propinas pelas transmissões das Copas do Brasil, América e Libertadores. Ao saber da condenação, o ex-cartola chorou. “O futebol tem sido um grande amor. Inclusive, na juventude, pude pagar assim meus estudos. Mas agora se tornou um grande pesadelo”, afirmou. A juíza Pamela Chen rebateu: “Marin diz que ama o esporte, mas ele e seus conspiradores foram o câncer no esporte que diz amar”.

Ex-dirigente e ex-governador paulista, Marin também foi penalizado no bolso. Ele teve US$ 3,35 milhões confiscados e deve pagar US$ 1,2 milhão de multa. Em 20 de novembro, outra audiência definirá os valores a serem ressarcidos à Fifa e à Conmebol (confederação sul-americana de futebol). Apertado, na semana passada ele teve que se desfazer às pressas de um apartamento em São Paulo. O imóvel estaria avaliado em R$ 16 milhões, mas foi vendido pela metade do preço.

Presidente da entidade máxima do futebol brasileiro entre 2012 e 2015, Marin poderia ter sido condenado pela maneira desonesta com que conduziu o esporte. Seu erro, porém, foi ter usado o sistema bancário dos EUA para movimentações escusas. Ele participava de uma reunião da Fifa, na Suíça, em 27 de maio de 2015, quando foi preso com outros cinco dirigentes internacionais. Extraditado para os EUA meses depois, ficou parte do tempo em prisão domiciliar em seu suntuoso apartamento na Trump Tower, na 5ª Avenida, a mais cara de Manhattan.

Delação

Marin poderia estar livre, não fosse a delação do também investigado J. Hawilla, dono da empresa de marketing esportivo Traffic. “Ele foi a principal testemunha de acusação. Depôs por dois dias seguidos”, diz Allan de Abreu, um dos autores de “O Delator”, livro que narra a queda do empresário. Hawilla chegou a assinar um acordo para devolução de US$ 151 milhões, mas morreu em maio antes de pagar tudo.

Primeiro dirigente da CBF a ser condenado, Marin não está sozinho. Também estão envolvidos Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, ambos ex-presidentes da entidade. Como a Justiça brasileira não extradita seus cidadãos, ambos seguem sem serem indiciados nos EUA. Menos sorte teve o cartola paraguaio Juan Ángel Napout, 60 anos, ex-presidente da Conmebol, preso junto com Marin na Suíça. Na quarta 29, ele foi condenado a nove anos de prisão pelo mesmo tribunal de Nova York.