Os cento e sessenta e quatro países-membros que integram a Organização Mundial do Comércio decidiram por unanimidade reconduzir na semana passada o embaixador brasileiro Roberto Azevêdo ao cargo de diretor-geral da entidade. Azevêdo permanecerá então nessa função, pela segunda vez, pelos próximos quatro anos, os mesmos quatro anos do mandato de Donald Trump na presidência dos EUA. A diferença é que o embaixador mantém equilíbrio, coerência e unicidade em seu discurso e atuação diplomática, enquanto a cabeça de Trump gangorreia na política de relações comerciais de acordo com os humores de seu fígado. Azevedo, acertadamente, vem procurando  minimizar todo e qualquer efeito Trump sobre a economia brasileira, até porque isso é mais saudável para as relações, de modo geral, entre os dois países. Reconhece, no entanto, que virão dias difíceis com o excessivo número de medidas protecionistas e as ameaças de quebra de contratos internacionais – e é inevitável que isso acabe prejudicando as possibilidades de recuperação da economia do Brasil. A primeira enxaqueca-Trump doeu em Azevêdo na quarta-feira 1, quando o governo americano enviou ao Congresso um projeto de política comercial que privilegia acordos bilaterais. Se aprovado, estará claro que poderão ir para o lixo os acordos multilaterais. Mais: ao estabelecer uma linha direta com outras nações (uma a uma, isoladamente), os EUA depreciarão a própria OMC e não mais respeitarão as suas decisões. “O risco de ações unilaterais, fora do acordado na OMC, é que preocupa”, diz o embaixador. “O unilateralismo tende a provocar um efeito dominó desastroso para todos os países”.

SOCIEDADE
Tiros e celulares

34

A média de duração de tiroteios no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, tem sido de cem horas semanais – cerca de catorze horas diárias. Isso vem durando desde o início do ano e nada leva a crer que vai diminuir. Mais crime: São Paulo está registrando a média de quinhentos e vinte celulares furtados por dia. Tudo leva a crer que isso vai aumentar.

PERSONAGEM
Memórias ricas

28

O ex-presidente dos EUA Barack Obama e sua mulher, Michelle, acabam de assinar contrato com a tradicionalíssima editora Penguin Random House. Cada um vai escrever as suas memórias dos tempos em que estiveram à frente da Casa Branca. O casal receberá US$ 60 milhões. Trata-se de um valor recorde pago pela Penguin. George W. Bush ganhou US$ 10 milhões e Bill Clinton recebeu US$ 15 milhões.

50
investigados pela Lava Jato têm, indiretamente, foro privilegiado no STF – o chamadoforo por tabela. Como seus casos estão ligados a políticos que legitimamente possuem tal prerrogativa, acabam desfrutando dela também.

MEDICINA
A fila de transplantes vai andar

29

Uma das maiores revoluções na área de transplantes de órgãos sensíveis à rápida deterioração, quando fora do corpo humano, foi anunciada pelo cientista John Bischof (foto), da Universidade de Minnesota (EUA). Um coração, por exemplo, tem de ser conservado em gelo e implantado em até quatro horas. O problema de não armazená-lo por mais tempo é que não dá para reaquecê-lo sem deteriorá-lo. Veio a solução: partículas de dióxido de ferro, usadas no congelamento, podem ser aquecidas ao ritmo de cem graus por minuto – as células, antes petrificadas, voltam a viver instantaneamente, sem danos. Hoje, 60% dos corações transplantáveis são desperdiçados.

RIQUEZA
Mostra-me a bagagem e te direi quem és

31
Fazia meio século que um rei da Arábia Saudita não pisava a Indonésia. Na quarta-feira 1, o monarca Salman quebrou esse jejum. E não deixou por menos: desembarcou com bagagem de 460 toneladas e comitiva de mil e duzentas pessoas.

APOSENTADORIA
O governo não é machista

A proposta de idade mínima de sessenta e cinco anos para a aposentadoria continua sendo um dos apertados nós que terão de ser desatados na Câmara dos Deputados – dezoito parlamentares, do total de trinta e seis que compõem a comissão especial, discordam da fixação desse teto. Grupos feministas também atacam o governo: acham que a idade mínima para as mulheres tem de ser inferior a dos homens. O secretário da Previdência, Marcelo Caetano, deu a reposta exata: “se somos machistas, então o mundo o é” – mais de dois terços dos países usam regras isonômicas. Argumenta-se que teto menor compensaria o trabalho reprodutivo. Erro: ser mãe é opção, trabalhar, para quem precisa, é obrigatoriedade.

SAÚDE
Lava Jato nos remédios

30

É urgente uma Lava Jato nos medicamentos. O Ministério Público do Distrito Federal propõe diminuir os preços de quarenta e três remédios – alguns custam 10.000% a mais em relação ao mercado. O SUS joga pelo ralo R$ 8 bilhões devido a esse sobrepreço.

CULTURA
Eu arraso no Uzbequistão

33
O Uzbequistão, país com doze províncias incrustado na Ásia Central, não é um lugar que costume frequentar os planos profissionais de artistas brasileiros, sejam eles iniciantes ou já consagrados. O Ministério da Cultura pensa bem diferente e está fazendo propaganda que acena com as boas oportunidades que lá existem para nossos artistas – desde que aprendam o idioma oficial, o uzbeque. Até o momento, o interesse foi zero. Paulo Coelho, com a autoridade de ser o escritor brasileiro mais traduzido em todo o mundo, ironizou a campanha: “não percam essa iniciativa! Parem de criticar e se mudem para o Uzbequistão”.