Roberto DaMatta é um dos principais intérpretes de nosso país. Em seu livro “O que faz do brasil, Brasil”, o primeiro Brasil com b minúsculo, o país da nossa economia e da miséria, o segundo Brasil com B maiúsculo, o país do ufanismo e da graciosidade, em torno da amizade, música, carnaval e futebol, faz a intérprete de nossa realidade. O primeiro Brasil é terrível como as garras de um dragão. O segundo país é divertido e gracioso, em torno da feijoada, do congraçamento na alegria desatinada de um sábado à tarde.

Na primeira metade do século XIX, tivemos duas guerras com a Argentina, 1825-29 e 1851-52, com exércitos de 30 mil a 40 mil soldados de cada lado, com baixas em cerca de 30 mil no total das duas guerras contabilizando-se ambos os lados. Na Guerra do Paraguai, de 1865 a 1870, morreram 100 mil brasileiros, 30 mil argentinos, 10 mil uruguaios, e 300 mil paraguaios, às vezes considerada como genocídio com a redução da população do Paraguai para 1/3.

Nos indicadores econômicos e sociais, os números retratam o calabouço do desastre. No PIB, somos a 9ª economia do mundo, com PIB de US$ 2,1 trilhões. Em renda per capita, estamos na 63ª colocação, com US$ 11.073,00 anuais. No IDH, que mede a qualidade de vida em função de bens e serviços para 191 países, estamos na 87ª posição. No índice de GINI, que mede a distribuição de riqueza em 162 países, estamos na 154ª posição. No PISA, que mede o desempenho de alunos do ensino médio em 81 países, estamos na 52ª posição em leitura, 61ª em ciências, e 65ª em matemática. Na renda per capita, estamos atrás de Barbados, Trinidad, e Costa Rica. No IDH, atrás da Rússia, China e Cuba.

No índice de GINI, atrás da Nicarágua, Venezuela e Zimbabwe. No PISA, atrás da Colômbia, Tailândia e Cazaquistão. Na segurança pública, dados do Banco Mundial para 2021 mostram que o Brasil conta com 27 homicídios/ ano por 100 mil habitantes, Uruguai 12, Paraguai 7, Bolívia 6, Argentina 5, Estados Unidos 5, Europa 3, China 0,5, Japão 0,3. Números não muito confortantes.

Em prevenção a acidentes naturais, estamos perto de 0 (zero). Em setembro de 2023, passei um mês em Halifax, no Canadá, onde presenciei a chegada do Furacão Lee com ventos de 130 km/h, sem interrupção de energia ou qualquer acidente fatal para a população. À mesma época, um ciclone extratropical no Rio Grande do Sul com ventos de 100 km/h levou ao lamentável saldo de 50 mortos. Neste ano, mais de 150 mortos com as enchentes.

O brasileiro é cordial na festa e na amizade, quase inimigo ou desrespeitoso no dia-a-dia e na economia. Como disse Fernando Blanco, professor da FIA, em recente citação no LinkedIn, “o brasileiro é apenas cordial nas coisas banais”.