Enquanto a indústria e a prestação de serviços derrapam, refletindo o enfraquecimento econômico causado pela pandemia, o agronegócio brasileiro prospera. No interior do País não se fala em crise e as perspectivas de desenvolvimento ainda resistem. No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) do País caiu 4,1%, mas a agropecuária cresceu 2%, puxada pelo crescimento das exportações de soja, milho e carnes para a China, para outros países asiáticos e para a União Europeia. O movimento continua em 2021. Embora a colheita da safra da soja esteja atrasada em alguns municípios, o Brasil poderá colher mais uma super safra de grãos (soja, milho, arroz, feijão e outros), de 272,3 milhões de toneladas, um avanço de 6% sobre o ano passado, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

“A safra de grãos é melhor do que eu imaginei em setembro do ano passado. Nós teremos uma boa renda com os grãos. Não teremos safras boas com a cana-de-açúcar, café e laranja em 2021, por causa da seca, embora a renda tenda a ser melhor”, diz Roberto Rodrigues, produtor e coordenador da FGV Agro, que tem lavouras de soja e cana em Jaboticabal (SP). Segundo Rodrigues, que foi ministro da Agricultura no governo Lula, a safra de verão está consolidada e houve algumas perdas em Goiás e Mato Grosso, mas foram pequenas. “A pandemia gerou uma demanda adicional por alimentos no mundo e isto foi benéfico para a agricultura brasileira”, conclui.

“A pandemia gerou uma demanda adicional por alimentos e isso beneficiou a agricultura brasileira. O Brasil alimenta hoje 800 milhões de pessoas no mundo” Roberto Rodrigues, produtor e coordenador da FGV Agro (Crédito:Divulgação)

Para entender o forte crescimento do agronegócio brasileiro, que vem desde 2014 sem interrupção, é preciso olhar para a Ásia. Com o mundo atravessando um novo ciclo de valorização das commodities, há uma forte demanda por produtos agrícolas e minério de ferro, principalmente da China, mas também de outros países da Ásia, como Indonésia e Índia, diz o analista de mercado Gustavo Massotti, consultoria Wisir Research. Outro fator que beneficiou o agronegócio foi a peste suína africana, que devastou os plantéis de porcos na China e em outros países asiáticos nos últimos dois anos. Em 2020, as exportações brasileiras de carne suína cresceram 42,2%, atingindo US$ 2,1 bilhões. Já as vendas internacionais de carne bovina cresceram 11% sobre 2019, para um valor recorde de US$ 7,45 bilhões.. Além da demanda crescente, outro fator que impulsiona o agronegócio brasileiro é a alta tecnologia. Agricultores em municípios de Goiás não atingidos pelas chuvas, por exemplo, já colheram toda a soja e plantaram a safrinha de milho graças a soluções inovadoras.

Melhoria de sementes

“Por causa da tecnologia, a colheita da soja foi acima de satisfatória e terminei de plantar o milho”, afirma o produtor gaúcho Neri de Alcântara, que vive há 30 anos em Vianópolis, entre Goiânia e Brasília (DF). Ele explica que a sua lavoura é mecanizada e elogia a atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que trabalha no fortalecimento das sementes e controle de pragas, tornando os grãos mais resistentes. “Hoje, nossa semente é muito melhor que há dez anos”, diz.

Roberto Rodrigues destaca que a agricultura brasileira é altamente sustentável, quer do ponto de vista ambiental, quer do empresarial. Segundo ele, infelizmente ainda existem ilegalidades prejudiciais ao agronegócio, principalmente na Amazônia, mas o produtor brasileiro cresceu pelos seus próprios méritos: investiu muito em tecnologia desde o início dos anos 90 e a produção cresceu 300%, enquanto a área plantada avançou apenas 34%.

“Hoje o Brasil alimenta 800 milhões de pessoas, um décimo da população mundial”, diz Rodrigues. Ele lembra que no ano 2000 as exportações do setor somaram US$ 20 bilhões, e em 2020 ultrapassaram US$ 100 bilhões. “Nenhum país deu este salto”, afirma. “Com a pandemia, a segurança alimentar voltou à pauta internacional e o Brasil tem grandes oportunidades pela frente.”