A “culpa” foi outra vez do escritor Afonso Borges, que consegue congregar à sua volta tantas causas justas que mais parece que vai viver três vidas. Seguidamente perguntei a Paulo Nascimento, cônsul geral de Portugal em São Paulo, quem era o Padre. Ele me disse que o tinha encontrado um dia, que havia pedido para conhecê-lo – ele vive literalmente no meio dos pobres – disse-me. Depois subscrevi a carta que o jornalista Jamil Chade enviou a Berit Reiss-Andersen, presidente do Comitê Norueguês do Nobel, propondo o nome do Padre Júlio para o Nobel da Paz. E pedi em voz alta aos meus amigos que o fizessem também e de novo peço, também aqui. E mesmo as pessoas que me disseram que no passado ele esteve envolvido em escândalos aceitam que o seu trabalho é importante, pois não há nenhum passado mais forte que o trabalho que o sacerdote hoje faz entre os mais pobres de São Paulo. Perdido entre os perdidos na Cracolândia, essa vergonha coletiva que ensombra a mais brilhante cidade do hemisfério sul, Júlio é uma lição para todos nós. Uma lição, não um exemplo. Porque aquilo que ele faz, pequenos mortais como nós, não conseguimos seguir.

Não há atuação melhor e mais solidária que a do padre Julio Lancellotti junto à população de rua

O Nobel da Paz é um dos mais fortes símbolos da bondade do mundo e por isso seria justo que fosse entregue a quem busque redenção entre aqueles que já não sabem sequer da existência do “bem”. Te cito Jamil. “Enquanto houver a pobreza, a paz seguirá sendo uma utopia. Enquanto houver a pobreza, a segurança não passa de uma ilusão. Enquanto ela não for erradicada, não há como falar em liberdade ou democracia plena”. Ele continua. “Hoje, diante de uma das piores crises sociais da história democrática do Brasil, um País que enche o peito para dizer que alimenta um bilhão de pessoas pelo mundo constata que trinta e três milhões de brasileiros passam fome. A Nação que comemora ser o sexto maior destino de investimentos externos de todo o mundo é o local onde 17,5 milhões de famílias vivem na extrema pobreza e com renda per capita mensal de até R$ 105”.

Acompanho-te, Jamil, que em qualquer “sociedade racista, injusta, segregacionista e violenta, padre Júlio simboliza uma resposta de esperança. Ao encarar a pobreza e suas correntes amarradas nos tornozelos de tantas pessoas, ele cumpre uma função crítica e corajosa pelas ruas abandonadas pelo estado, por parte da sociedade e pelo mercado”. Te agradeço Jamil, por nos recordares que o trabalho de resgatar a dignidade àqueles que perderam tudo, inclusive a sensação de que fazem parte da humanidade merece pertencer para sempre à memória coletiva de todos. E como o Brasil precisa de um Nobel da Paz.

Deixo aqui o link para o leitor se unir a esse esforço: https://bit.ly/39S9nQx